Apesar de ter tranquilizado o mercado, a nova ´"estratégia comercial" da Petrobras causou interrogações sobre o abastecimento de diesel no Brasil. O problema é que cerca de 25% do consumo desse combustível no país ainda é abastecido com produto importado. O percentual é menor do que já foi no passado recente - acima de 30% -, mas ainda significativo.
E a preocupação é de que, se o preço da estatal para o combustível ficar muito abaixo da referência internacional, os importadores não queiram comprar mais caro no Exterior para vender mais barato no país. No mercado, circulam informações de cancelamento de compra de diesel no Exterior por falta de clareza da nova formação de preços da estatal.
Nesta quarta-feira (17), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi questionado sobre esse tema em entrevista na GloboNews. Ele afirmou que manter a Paridade de Preços de Importação (PPI) apenas com essa finalidade equivaleria ao "rabo abanar o cachorro":
— Antes, todo o país praticava preço de importação para atender a 25% do mercado. Agora, vai ter 75% atendido com preço brasileiro. O importador não vai perder oportunidade de vender aqui, inclusive porque os preços não serão tão distantes que se torne inviável. O papel das traders (empresas que atuam em importação e exportação) é esse mesmo: fazer preços específicos para, em algum lugar, completar a oferta. Não vamos pegar o rabo e abanar o cachorro.
Prates afirmou ver mais risco de desabastecimento em regiões remotas, que não são atendidas pela Petrobras, do que com o centro do país.
— Como estou dizendo que a Petrobras tem de ser a melhor opção em relação ao importado, é óbvio que vai entrar mais caro. Se houver demanda, vai oportunizar essa venda. O que não faz sentido é que, para não faltar diesel no Brasil, tenha o preço que esse cara quer.
No longo prazo, afirmou Prates, a Petrobras pretende fazer ajustes nas suas refinarias que permitam ampliar a produção doméstica de diesel, ainda que esse processo leve tempo:
— Teria duas Reduc (Refinaria Duque de Caxias, no Rio) possíveis de serem feitas com as refinarias que a Petrobras já tem, não vamos construir novas refinarias. Isso equivaleria a uma capacidade extra de refino de 500 mil barris/dia.
Sem ser provocado, o presidente da Petrobras admitiu que "o sistema não é reto, não entra uma coisa e sai outra, automaticamente". Reconheceu que é preciso "gerir derivados". As declarações se referem ao fato de que, ao processar petróleo, as refinarias geram vários tipos de derivados, tanto os mais valorizados, como gasolina e diesel, quando os menos, como coque, que têm pouca demanda.
A coluna consultou a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) sobre eventuais riscos da nova "estratégia comercial" para a atividade, mas não recebeu retorno até esse momento.
O que era a PPI
Em 2016, na gestão Temer, com a Petrobras abalada por escândalos de corrupção, elevado endividamento e um congelamento "branco" de preços, que provocaram altos prejuízos, foi adotado o cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI). O objetivo era exatmente evitar que a estatal acumulasse perdas por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina.
A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, com preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como seguro contra perdas. Mas havia um detalhe: era meio a fórmula da Coca-Cola de antigamente: seus componentes eram conhecidos, mas o método de cálculo, não, o que fazia com que houvesse grandes diferenças na tentativa de estimar qual era, afinal, a defasagem de preços em determinado período.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo