O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
A alta das ações da Petrobras no final do pregão desta terça-feira (16) na B3, após o abandono da paridade de importação (PPI) como base dos reajuste para os combustíveis, traduz a recepção da medida no mercado. “Nenhuma novidade em relação ao nosso cenário base, que já previa a alteração em maio e a continuidade da precificação com referências externas, aliada às questões regionais”, disse em nota o líder da área de análise da Warren, Frederico Nobre.
Em outras palavras, para os investidores, a principal alteração é que enquanto o PPI considerava não só o custo do produto refinado e a taxa de câmbio, mas sim outras despesas, como frete e tarifas, não necessariamente incorridas pela Petrobras, ao adotar o “custo alternativo do cliente”, a empresa continuará olhando para as referências externas. A diferença? é que, agora, “da porta pra fora” e não só “da porta pra dentro”.
A ideia, explica Nobre, é que abdicando da obrigatoriedade de seguir a PPI, a Petrobras consiga ser mais competitiva em alguns mercados, sem ferir a rentabilidade da companhia. Bom para os acionistas e melhor ainda para os consumidores, que já terão uma redução de valores nas bombas a partir desta quarta-feira (17).
Apesar de dúvidas que ainda pairam sobre a previsibilidade dos novos critérios para a formação de preços nas distribuidoras, e carecem de mais esclarecimentos, existe outro efeito positivo no horizonte próximo. Trata-se do controle da inflação. É que há quase dois anos o país convive com um cenário contraditório em que o preço médio do diesel – historicamente menor e usado em larga escala para o transporte de cargas no Brasil – está acima do valor cobrado pela gasolina.
Não é por acaso que os combustíveis, ainda hoje, são reconhecidos como os “vilões da inflação”. No passado recente, esse título ensejou, inclusive, ações drásticas como a redução do ICMS estadual na tentativa de barrar os constantes aumentos de preço. Puxando pela memória: em 2021, quando a inflação fechou em 10,06%, a maior desde 2015 – o diesel subiu 52,75% e a gasolina 54,14%.
Naquela ocasião, em junho, para se ter uma ideia, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a comparação do preço médio do diesel com o da gasolina ao consumidor final chegou a 105% no Rio Grande do Sul e a 102% no Brasil. O cenário, afirma o ex-Superintendente de Abastecimento da ANP e economista-chefe da ES Petro, Edson Silva ocasionou uma “intervenção brutal” do mercado, inclusive, com a manutenção do PPI, somente em teoria, porque na prática, por imposição, do governo a sintonia entre câmbio e barril de petróleo foi deixada de lado.
Em novembro do ano passado, a relação diesel/gasolina ficava em 30,9% no país e RS 30,5% no RS. Em queda a partir de então, em abril, chegou a menor diferença: 0,5% no Brasil e 0,53% no Estado. Com a nova orientação de preços da Petrobras, a expectativa é de que venha a pá cal para soterrar uma tendência que ajudou a corroer os preços generalizados da economia nacional, sobretudo o dos alimentos, em razão do aumento dos custos de fretes.
A medida ainda corrige outra distorção, conforme explica Silva. Com base em relatório de uma consultoria Internacional, a Global Petrol Price, no mês passado, o Brasil detinha o terceiro maior preço médio da gasolina (US$ 1,15, por litro), entre os dez maiores produtores de petróleo do planeta. Por aqui, também se encontrava o diesel mais caro na comparação com os mesmos pares (US$ 1,10, por litro).
– Uma situação inaceitável – pontua Silva.