A indicação de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, para o Ministério da Fazenda parece ser uma questão de dias, pelos sinais dados pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e pela equipe de transição.
Na sexta-feira (25), o mercado financeiro reagiu mal à primeira manifestação pública de Haddad como virtual futuro ministro. A rejeição foi atribuída à falta de definições, e o ministrável fez questão de avisar que não falava em seu nome, mas no do presidente eleito.
O que se discute, agora, é se Haddad tem ou não credenciais para ser ministro da Fazenda. A primeira observação é de que ele não tem "reputação" para o cargo, ou seja, não é uma pessoa com trajetória na área econômica. É é formado em Direito (1985), com mestrado em Economia (1990) e doutorado em Filosofia (1996), todos pela Universidade de São Paulo (USP).
Na área acadêmica, o mestrado em Economia é um trunfo, mas o assunto da tese resultante está, na melhor das hipóteses, datado: "O caráter socioeconômico do sistema soviético". Uma das lendas que povoam as redes, a propósito dessa formação, é um vídeo no qual Haddad brinca com dois respeitados ex-colegas de que "colou" deles para passar no mestrado.
A falta de conhecimento sobre a dinâmica de mestrados e a má vontade com o virtual futuro ministro faz algumas pessoas levarem a sério. Um dos citados como alvo da "cola", Alexandre Schwartsman - que não é exatamente um fã das ideias de Haddad - já tratou de esclarecer, pelo Twitter, que se tratava de óbvia brincadeira.
Apesar dos alegados "dois meses de estudos" de Economia, seu primeiro cargo público de relevância foi na subsecretaria de Finanças do município de São Paulo (2001-2003). Depois, atuou como assessor especial do Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão (2003 -2004), foi ainda secretário-executivo do Ministério da Educação (2004 -2005) e ministro da Educação (2005-2012). Apesas de ter se formado em Direito e obtido a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Haddad pouco atuou como advogado: empreendeu, abrindo uma construtora e, depois, foi trabalhar como analista de investimentos no Unibanco
Haddad costuma dizer que, na prefeitura de São Paulo, atuou com responsabilidade fiscal. Há indicadores que sustentam essa autoavaliação, mas um de seus principais feitos foi a renegociação da dívida municipal com a União - no governo Dilma, mas autorizada pelo então ministro da Fazenda Joaquim Levy, que não cometeria um "acordo amigo". Com a mudança do indexador e redução na taxa de juro, o débito total caiu de R$ 79 bilhões para R$ 29 bilhões. Foi mesmo processo que beneficiou o Rio Grande do Sul e outros Estados.
Não há muita dúvida de que é a política, não a economia, que conduz a decisão do presidente eleito sobre seu ministro da Fazenda. Nesse cargo, Haddad poderá se credenciar como eventual sucessor de Lula. Se essa percepção faz sentido, no entanto, o que se pode esperar é que tanto o chefe do Executivo quando o principal responsável pela política econômica tenham o maior interesse de que seu trabalho seja aprovado pelos eleitores. Sem isso, não haverá chance de sucessão.