Depois que o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, foi confirmado como representante do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no Almoço Anual de Dirigentes, organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o evento desta sexta-feira (25) virou o grande teste da suposta indicação ao comando do Ministério da Fazenda.
Haddad já começou avisando que não falava em seu nome, mas no do presidente. E foi logo respondendo a uma provocação anterior feita pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney
— A determinação clara do presidente Lula é de que possamos dar logo no início do governo, prioridade total à reforma tributária.
A bolsa, que abrira em leve baixa, operava com queda de 1,14% pouco antes da fala de Haddad. Foi à máxima do dia quando o ex-ministro mencionou a reforma tributária, mas perdeu rapidamente 500 pontos antes do final. Ou seja, não gostou, mesmo que o petista tenha procurado fazer um discurso palatável. Ou seja, se era para ser um teste, não houve aprovação. Como Haddad foi cauteloso no discurso, a reação negativa foi atribuída ao fato de não ter trazido novidades na área econômica, nem na definição de ministérios.
Haddad afirmou que há "consenso entre economistas que se dedicam a avaliar a qualidade da despesa pública" que esse indicador "piorou muito".
— Hoje, temos um orçamento com muita dificuldade de atingir qualquer objetivo, seja na ciência e tecnologia, na saúde e na educação. Há uma desorganização de programas estruturais, não dos criados pelos nossos governos, mas os existentes há décadas, que vêm perdendo funcionalidade. Precisamos melhorar a qualidade dos gastos com um choque de gestão — afirmou, sem que a bolsa reconhecesse com movimento para cima esse vocabulário que costuma apreciar.
Cauteloso, Haddad não mencionou a PEC da Transição, muito menos fez qualquer sinal de que já ocupou uma beira da cadeira de ministro da Fazenda. Mas reforçou a sinalização que o então candidato Lula já fez sobre a intenção de substituir o teto de gastos:
— Economistas que têm o apreço dessa audiência registram que o teto de gastos, embora reputado como o que garantiu que a inflação não voltasse com a força que poderia, não conseguiu inibir perda da qualidade do gasto público. Temos a tarefa enorme de reconfigurar o orçamento público e dar a ele mais transparência.
A parte mais "ministerial" do discurso foi a em que Haddad procurou dar sinais positivos de futuro. Afirmou que está "se abrindo um conjunto de oportunidades para o Brasil muito impressionante" e que o país pode se valer desse cenário para "fazer a diferença":
— Teremos na Presidência um personagem popular e respeitado no Exterior. Os acordos que estão na gaveta vão sair muito rapidamente. Falta pouca coisa, alguns poucos gestos para alavancarmos o comércio exterior do Brasil.
Haddad fez questão de encerrar sua fala - longa, para o que se esperava - afirmando que os ministros do governo Lula ainda serão definidos.
Sabendo que estava sendo ouvido pelo potencial novo ministro da Fazenda, Isaac Sidney, presidente da Febraban, mandou seus recados. Disse que o Brasil precisa retomar as reformas, porque a cada dia sem traz consequências negativas. E pediu uma, em particular:
— Precisamos mudar esse sistema tributário perverso, que penaliza a produção, os investimentos e o consumo. O pior cenário é ficar preso na falta de consensos. Todos sabemos qual é a reforma tributária que precisamos fazer.
Sidney pediu, ainda, redução da chamada "cunha fiscal", parte do custo dos empréstimos, o chamado "spread" (diferença entre as taxas que os bancos pagam aos aplicadores e cobram dos credores)., que é composta por tributos federais. E avisou:
— Não estou pedindo redução da carga tributária sobre os bancos, mas sobre o crédito.
Antes da manifestação de Haddad, falou o palestrante do dia, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também deu seus recados. Alertou que a redução da inflação não será "linear", ou seja, pode haver repiques à frente, em qualquer cenário. Também alertou que as políticas monetária - definida pelo juro, pelo BC - e fiscal - decidida pelo governo, especialmente pelo Ministério da Fazenda - não podem ter sentidos opostos.