
O motorista do Fusquinha azul foi pilotar algum veículo em outra dimensão. José "Pepe" Mujica despediu-se da vida nesta terça-feira (13), um dia depois que sua mulher, Lucía Topolanski, avisou que ele estava sob cuidados paliativos.
Por sua vida simples, ficou conhecido como "o presidente mais pobre do mundo". Nesse posto, faltam perspectivas de sucessor, mas Mujica não saiu de cenário sem antes deixar um discípulo na presidência do Uruguai, Yamadú Orsi. Antes de partir, fez um pedido: ser sepultado na sua chácara perto de Montevidéu, ao lado de Manuela, uma cachorrinha de três patas que o acompanhava por todo lugar e morreu em 2018.
Também pediu para não ser transformado em mito, mas vai ser difícil. Mujica era todo um personagem de Gabriel Garcia Márquez. Passou 14 anos na prisão, dos quais 12 em solitária, confessou ter sofrido delírios de perseguição, mas superou e virou conciliador. Em uma de suas últimas entrevistas, logo depois da vitória de seu pupilo, afirmou à AFP:
– Lula está perto dos 80 anos e não tem substituto. Essa é a desgraça do Brasil.
Na frase, estava implícita uma crítica a pessoas apegadas ao poder, que não poupou também a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner:
— Aí está a velha Kirchner na Argentina, à frente do peronismo. Em vez de se tornar conselheira e deixar novas gerações, não, está atrapalhando. Como é difícil para eles largar o bolo! Que coisa.
Mujica morreu tranquilo em um país que cultiva valores democráticos a ponto de ter se tornado relativamente blindado ao discurso de ódio. Relativamente, é claro. Depois da eleição de Orsi, o ex-presidente, Luis Lacalle Pou, que era muito bem avaliado e contava com a vitória de seu indicado – o que não ocorreu – colocou-se imediatamente à disposição para fazer a transição.