
Foi uma terça-feira (13) entusiasmada no mercado financeiro. A bolsa brasileira (B3) alcançou novo recorde histórico: seu principal índice, o Ibovespa, teve alta de 1,76%, para 138.963 pontos. Superou a marca anterior de 137.343 pontos de 28 de agosto de 2024. O câmbio também teve sessão positiva: o dólar fechou em queda de 1,34%, para R$ 5,609, menor nível desde 14 de outubro de 2024, sete meses atrás.
Um desempenho tão positivo em cenário desafiador não tem apenas um motivo, foi resultado de ao menos quatro fatores. Um, reforçado nesta terça-feira pela ata do Comitê de Política Monetária (Copom), é a percepção do mercado de que o ciclo de aperto de juro deve se encerrar no patamar atual, 14,75%.
Também ajudaram a trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China, a inflação abaixo do previsto nos EUA – mais chance de corte de juro por lá – e até uma recomendação de compra de ações da própria B3 feita pelo Morgan Stanley, um grande banco americano.
Uma pausa no aperto monetário, conforme o diretor de pesquisa econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, tem potencial de impulsionar a bolsa de valores. Não só pela perspectiva de que a renda fixa não "engula" todas as aplicações, mas também por alimentar a chance de melhora da economia brasileira no futuro.
O economista ainda chama a atenção para o fato de que o Brasil pode se beneficiar da política tarifária de Donald Trump. Os preços das commodities (matérias-primas), das quais o país é grande produtor, voltaram a se valorizar depois da trégua na guerra comercial, o que também é bom para bolsa e real.
— Houve um pico de aumento da percepção de risco global que agora diminui. É o que dá mais atratividade aos mercados emergentes. O fluxo para B3, do primeiro dia útil do ano até sexta-feira passada, está positivo em US$ 2,2 bilhões, respeitável para o padrão brasileiro — afirma Oliveira.
Mesmo com inflação resistente e maior taxa de juro em 19 anos, a reversão do pessimismo de 2024 favorece os ativos brasileiros, diz o estrategista-chefe da GCB Investimentos, Lucas Constantino
— O início de 2025 trouxe alívio importante. O câmbio, também influenciado pelo elevado diferencial de juro, recua para a faixa de R$ 5,60. Ao mesmo tempo, as taxas futuras de juro passaram a ceder, refletindo a melhora do sentimento do mercado e um ambiente de maior apetite ao risco.
Meio cheio e meio vazio
Para o economista e estrategista-chefe da corretora Monte Bravo, Alexandre Mathias, é possível analisar o recorde da bolsa sob duas perspectivas. A positiva é uma recuperação de cerca de 17% desde 3 de janeiro de 2025, quando o Ibovespa havia alcançado 118.532 pontos. O negativo é que o índice permanece praticamente estável nos últimos quatro anos, pouco acima da marca de 131 mil pontos registrada em junho de 2021.
*Colaborou João Pedro Cecchini