
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira (13) mantém mistério sobre movimentos futuros e ainda sustenta o "viés de parada" na alta de juro. Chamou atenção, no longo texto do Banco Central (BC), uma longa advertência sobre o nível de emprego.
É bom lembrar, ainda, que o texto foi baseado em uma discussão ocorrida antes da maior novidade desde a mais recente reunião do Copom: a trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China que, se não acaba com a incerteza, tem potencial de reduzi-la, como se viu na véspera.
Sobre a próxima reunião, o recado é "cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados". No trecho que a coluna usou em destaque, está o "viés de parada": deixar o juro lá no alto e esperar os efeitos que ainda não vieram. Nos manuais, a taxa elevada leva de seis a nove meses para fazer todos os efeitos.
O trecho que chamou atenção da coluna, quando empresários relatam dificuldades de contratação, foi sobre o mercado de trabalho. Segundo o Copom, é um dos fatores que têm "contribuído, ao longo dos últimos anos, para o dinamismo de atividade", tanto "do ponto de vista de renda, com ganhos reais acima da produtividade", quanto a taxa de desemprego em "níveis historicamente muito baixos".
Conforme a diretoria do BC, "a inflexão no mercado de trabalho também é parte do mecanismo de política monetária e deve se aprofundar ao longo do tempo, de modo compatível com um cenário de política monetária restritiva". Inflexão, como se sabe, é mudança de direção. Essa é uma variável relevante a considerar no debate sobre a redução de beneficiários de programas sociais.
Em outro trecho, o Copom dá o já quase costumeiro "puxão de orelhas" na política fiscal do governo Lula, também um pouco mais alentada do que a já usual:
"O Comitê segue utilizando a política fiscal como insumo em sua análise e, dada a política fiscal corrente e futura, adotará a condução de política monetária apropriada para a convergência da inflação à meta".
Traduzindo: sem redução nos gastos públicos, o juro pode, sim, continuar subindo. E o Copom fez questão de reiterar a mensagem:
"(...) O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária (uma alusão ao risco de dominância fiscal) e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade".