Se era para ser o primeiro grande teste do nome do ex-ministro da Educação Fernando Haddad como eventual futuro ministro da Fazenda, ele não passou. A bolsa, que já vinha em em baixa ao redor de 1%, aprofundou as perdas ao final do discurso na Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e fechou o dia com queda de 2,55%, menos acentuada do que a alta de 2,75% da véspera. O dólar subiu 1,89%, para R$ 5,41.
A coluna, que acompanhou o discurso ao vivo, por vídeo, constatou que Haddad fez um discurso ao gosto do mercado, falando em "prioridade total à reforma tributária" e em "melhorar a qualidade dos gastos com um choque de gestão". Não desafiou o senso comum, nem os conceitos que teriam "o apreço dessa audiência" - expressão usada por ele -, mas o diagnóstico é de que os temas que realmente importam não foram abordados.
Haddad compareceu ao Almoço Anual de Dirigentes escoltado por André Esteves, presidente do BTG Pactual, que já foi muito próximo dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Dias antes, Esteves fazia circular a tese de que, para metade da Faria Lima (avenida de São Paulo que simboliza o mercado financeiro por ter muitas sedes de bancos e gestoras de investimento), já não havia restrições a esse nome.
Haddad fez questão de relatar que havia recebido convite para o almoço, mas declinara. Na na terça-feira (22), contou, Lula lhe pediu o representasse no evento. E "deixou escapar um "minha vida mudou muito de terça para cá". Nem precisava. Para analistas de mercado, é "simbólico" que Haddad tenha ido ao almoço da Febraban como representante de Lula.
— Significa que o nome (para o Ministério da Fazenda) é o dele — ouviu a coluna de um interlocutor que prefere não ser identificado.
Nessa lógica, como Haddad "não é respeitado na área econômica" e falou de "temas muito genéricos", a repercussão foi negativa. O que importa, para o mercado, é a definição sobre a expansão de gastos, qual será a regra fiscal depois do fim do teto e como o novo governo vai controlar a dívida, temas que "foram problemas em gestões passadas do PT".
Enquanto Haddad discursava na Febraban, Lula estava reunido em sua casa, também em São Paulo, com Gleisi Hoffmann, presidente do PT, Jaques Wagner,ex-governador da Bahia, e Wellington Dias, governador do Piauí, sobre a PEC da Transição. Até por isso, Haddad não mencionou a proposta de deixar R$ 198 bilhões fora do teto de gastos no orçamento de 2023. Apesar do cuidado de Haddad, uma de suas declarações na Febraban ajudou a azedar o humor de investidores e especuladores:
— Lula vai dar prioridade a aprovação em relação aos tributos indiretos, mas depois pretende focar em renda e patrimônio para completar o ciclo.