As chances são pequenas, porque como o próprio Ricardo Salles fez questão de dizer antes de sair, ele estava cumprindo as tarefas dadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Mas a queda do que foi chamado de antiministro do Meio Ambiente ou ministro do Ambiente Zero abre oportunidade para o Brasil tentar recuperar sua imagem internacional.
Salles não caiu porque "passou a boiada", porque cumpriu a agenda alinhada à de Bolsonaro, de desprezo à ciência, aos técnicos do Ibama, do ICMBio e do INPE, à preservação da Amazônia e à demarcação de terras indígenas. Caiu porque, como a coluna já havia afirmado, deixou de ser sustentável.
É investigado pela Operação Akuanduba sobre contrabando de produtos florestais, em que a Polícia Federal (PF) apontou "fortes indícios" de seu envolvimento, por operação atípica" de R$ 1,8 milhão em seu escritório de advocacia. E não sai sem antes derrubar não um, mas dois altos funcionários da PF. Na semana passada, Franco Pezzani, responsável por chefiar a operação que fez buscas em endereços de Salles, foi demitido da chefia da PF. O primeiro a ser removido do cargo de superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, reagiu assim no Twitter nesta quarta-feira (23):
Mas se cumpria a agenda de Bolsonaro, Salles desatendia interesses que vão do que se convencionou chamar de "agronegócio moderno" a empresários que dependem da boa vontade do mercado externo, passando por aliados do governo com conexões internacionais. Vice-presidente da Câmara dos Deputados, portanto base do governo, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) festejou a queda usando a expressão cunhada pelos ambientalistas e manifestou um diagnóstico de consenso — deixa de ser assunto de política para ser assunto de polícia:
Sinal que de fato era um eficiente cumpridor de tarefas, havia sido elogiado pelo chefe na véspera, justo durante o lançamento do Plano Safra 2021-2022:
— Prezado Ricardo Salles, você faz parte dessa história. O casamento da Agricultura com o Meio Ambiente foi um casamento quase perfeito — disse o presidente, durante cerimônia de lançamento do Plano Safra 2021-2022.
Como ficou claro nesta quarta-feira (23), foi a passagem final de mão na cabeça. Inspirado no presidente, Salles desmontou o Fundo Amazônia, que reunia recursos da Noruega e da Alemanha que ajudavam na preservação da maior floresta tropical do mundo. Como foi o executor, se houver interesse de Bolsonaro, pode ser responsabilizado para que as relações com os financiadores sejam reconstruídas.
O Brasil terá novas oportunidades de receber recursos com essa finalidade com iniciativas lideradas pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e pela Europa com seu "Green New Deal", ou retomada econômica baseado na descarbonização da economia. Especialistas duvidam de alguma melhora no Ministério do Meio Ambiente sob Bolsonaro, mas neste caso, é possível ao menos ambicionar uma despiora.