Sob investigação e com a retirada do sigilo das partes principais da Operação Akuanduba sobre contrabando de produtos florestais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já não era sustentável.
Com a ausência na quinta reunião do Conselho da Amazônia sobre desmatamento, Salles entra em risco de autoextinção. Embora não seja ouvido na composição da Esplanada dos Ministérios, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, abdicou até de seus usuais eufemismos ao comentar a omissão:
— Lamento profundamente a ausência do ministério mais importante, que não compareceu à reunião hoje (quarta-feira, 27) e nem mandou representante, que é o Ministério do Meio Ambiente. Lamento profundamente não mandar representante, não comparecer, muito menos dar qualquer tipo de desculpa. Então, da forma como eu fui formado, eu considero isso falta de educação.
Embora não seja usual, a acusação de "falta de educação" é a mais leve que pesa sobre Salles. A ausência ocorre na semana em que o ministério não informa a agenda do ministro desde segunda-feira (24). E logo depois que a Polícia Federal apontou "fortes indícios" de seu envolvimento no esquema investigado, ancorada em operação atípica" de R$ 1,8 milhão em seu escritório de advocacia.
Situações mais confortáveis já derrubaram ministros muito bem avaliados. E isso tudo ocorre às vésperas do início da "temporada de queimadas" na Amazônia, um dos motivos da reunião à qual Salles faltou. Em abril, o desmatamento da floresta mais conhecida no planeta foi o maior desde 2016. O dado confirma o abismo entre a realidade e o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Cúpula do Clima convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Em paralelo, a União Europeia pressiona por um acordo ambiental que permita fechar o acordo de livre-comércio com o Mercosul até o final de julho, quando termina o período de Portugal na presidência do Conselho, principal instância decisória do bloco, formada por chefes de Estado.
Se os próximos meses trouxerem imagens de queimadas com as que ganharam o mundo em meados de 2019 e 2020, não haverá clima nem para o ensaiado "splitting" — separação da área comercial do tratado UE-Mercosul, que não exigiria unanimidade no Conselho nem ratificação nos parlamentos dos 27 países-membros —, tentativa de não perder o esforço de negociação de 15 anos. Nesse cenário, a ausência de Salles na reunião sobre a a Amazônia carimba seu passaporte de saída da Esplanada.