O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão na tarde desta quarta-feira (23) ao presidente Jair Bolsonaro. Ele alegou motivos familiares para deixar o cargo.
A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União, juntamente com a nomeação de Joaquim Alvaro Pereira Leite como novo ministro do Meio Ambiente.
Salles é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter atrapalhado apurações sobre apreensão de madeira. Em 19 de maio, ele foi alvo de operação da Polícia Federal, que investigava esquema envolvendo a exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa. Salles nega ter cometido irregularidades.
— Para que isso (investigação) seja feita de forma mais serena possível, apresentei minha exoneração — disse Salles ao justificar o pedido em entrevista no Palácio do Planalto.
A demissão ocorre um dia depois de Bolsonaro elogiar Salles em evento no Palácio do Planalto.
— Parabéns, Ricardo Salles. Não é fácil ocupar seu ministério. Por vezes, a herança fica apenas uma penca de processos. A gente lamenta como por vezes somos tratados por alguns poucos desse outro Poder, que é muito importante para todos nós — disse o presidente durante evento de lançamento do Plano Safra 2021-2022.
O anúncio da troca no Ministério do Meio Ambiente também ocorre no momento em que o governo é acusado de corrupção na compra de vacinas para a covid-19. Em entrevista ao Estadão mais cedo, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), aliado do Palácio do Planalto, afirmou ter alertado o próprio Bolsonaro de que havia "corrupção pesada" no Ministério da Saúde envolvendo a compra da Covaxin.
Na ocasião, segundo o parlamentar, o presidente afirmou que procuraria a Polícia Federal para investigar o caso. Apesar do aviso, o governo seguiu com o negócio em que prevê pagar pelo imunizante indiano um preço 1.000% maior do que o anunciado pela própria fabricante seis meses antes.
"Experimentei muitas contestações"
Em entrevista no Palácio do Planalto, Ricardo Salles fez ainda um balanço sobre o período em que comandou o Ministério do Meio Ambiente:
— Experimentei ao longo destes dois anos e meio muitas contestações, tentativas de dar a essas medidas caráter de desrespeito à legislação, o que não é verdade.
Salles destacou ainda a necessidade de o Brasil ampliar as obras de infraestrutura e "continuar sendo o grande líder do agronegócio".
Polêmicas
A gestão de Salles foi marcada por polêmicas. Uma das principais foi quando sugeriu "ir passando a boiada", alterando regras ambientais, enquanto imprensa e sociedade estavam preocupados com a pandemia da covid-19. A manifestação foi feita durante reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
Além disso, em abril de 2021, um dia antes de ter início a conferência internacional sobre as mudanças climáticas convocada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, Salles passou parte do dia envolvido em bate-boca pelas redes sociais com pessoas que pediam sua saída do cargo. Depois de cantora Anitta publicar, em seu perfil no Twitter, uma foto do ministro e escrever "#FORASALLES desserviço para o meio ambiente", o ministro reagiu à publicação e respondeu: "Fica na sua aí, ô Teletubbie ! #FicaSalles".
Em outubro do ano passado, ele chamou o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, de Maria Fofoca. O ataque ocorreu após uma nota publicada pelo jornal O Globo, afirmando que Salles estava "esticando a corda" com militares do governo. O ministro do Meio Ambiente entendeu que seria uma declaração de Ramos, que negou ter feito o comentário.
Dias depois, em mensagem também publicada nas redes sociais, Salles pediu "desculpas pelo excesso" ao chamar Ramos de Maria Fofoca. O ministro da Secretaria de Governo, por sua vez, disse que "uma boa conversa apazigua as diferenças".
Na sequência, uma publicação feita pelo perfil de Salles se referiu ao então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como Nhonho. Trata-se de um apelido utilizado de forma pejorativa pelos bolsonaristas contra o então presidente da Câmara, em referência ao personagem da série mexicana Chaves, interpretado pelo ator Édgar Vivar. A palavra "nhonho" é também popularmente usada para se referir a uma pessoa "tonta", que só fala besteira.