Demorou, mas a força avassaladora das denúncias de envolvimento em suposto esquema de corrução que pesam contra ele derrubou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Seria mais correto dizer “antiministro”, aquele que em 2020 queria aproveitar o momento em que a imprensa estava ocupada com o coronavírus para “passar a boiada” na legislação ambiental. Essa frase foi dita na reunião antológica que precedeu a queda de Sergio Moro e do recém-nomeado ministro da Saúde, Nelson Teich, cuja expressão de espanto com o nível dos colegas virou meme.
No vale dos caídos, Salles fará companhia a outros dois radicais que revelaram naquela reunião seu despreparo para os cargos que ocupavam: Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Abraham Weintraub, da Educação.
Salles tentou de todas as formas se segurar no cargo, mesmo com o avanço das investigações da Polícia Federal sobre suposto envolvimento com o desmatamento ilegal e o contrabando de madeira. Protegido pelo presidente Jair Bolsonaro, atropelou dois delegados da PF que cruzaram seu caminho, mas acabou incinerado com o avanço das investigações e o acúmulo de evidências contra ele.
Negacionista do aquecimento global e das queimadas na Amazônia, comprovadas por um órgão do governo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Salles foi o terror dos ambientalistas com suas teorias conspiratórias, seu desprezo ao meio ambiente e sua arrogância de menino mimado, chamado nos corredores do ministério de “menino maluquinho”.
A queda pode ter sido precipitada pelo surgimento de outro escândalo capaz de abalar as estruturas da República, o da compra superfaturada da vacina Covaxin, do laboratório indiano Barath Biotech.
Os mistérios que envolvem o negócio ganharam novos ingredientes nesta quarta-feira (23) com a revelação do deputado Luís Miranda (DEM-DF), de que levou pessoalmente ao presidente Bolsonaro o que ele considera “provas contundentes" de irregularidades nas negociações para a compra da Covaxin, pela qual o governo concordou em pagar US$ 15 a dose, mais do que por qualquer outra das que estão sendo aplicadas no Brasil — e o imunizante sequer passou pela fase 3 dos testes clínicos.
— O presidente sabia que tinha crime naquilo — disse Miranda em entrevista à CNN.
O deputado é irmão de Luis Ricardo Fernandes Miranda, um servidor do Ministério da Saúde que teve conhecimento das mutretas que estavam sendo tramadas no Ministério da Saúde e resolveu abrir o bico. Na entrevista, disse que procurou Bolsonaro porque seu irmão estava sofrendo retaliação por resistir em acelerar o negócio.
Aliás
A denúncia de Luís Miranda por ser a explicação para a frase enigmática do ex-ministro Eduardo Pazuello, quando caiu, e falou em pixulé. Depois, na CPI, Pazuello desconversou e tentou convencer os senadores de que pixulé era a “raspa de tacho” das verbas do orçamento, o que não convence nem as emas do Palácio da Alvorada.