Em meio ao depoimento do deputado Osmar Terra (MDB), a CPI da Covid recebeu a informação de que o empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos não comparecerá à sessão desta quarta-feira (23). A justificativa é que Maximiano esteve na Índia e, por isso, terá de fazer uma quarentena de 14 dias.
Para quem não acompanhou o último capítulo da novela das vacinas, Precisa e Maximiano não significam nada, mas podem ser os nomes por trás de um possível escândalo cujo cheiro já se faz sentir nos corredores de Brasília e se espalha pelo país. Precisa é intermediária na compra, pelo Brasil, da Covaxin, a vacina indiana fabricada pelo laboratório Barath Biotech, que ainda não foi aprovada pela Anvisa.
Os mistérios que envolvem esse imunizante intrigam os integrantes da CPI. Desenvolvida por um laboratório menos conhecido que todas as outras vacinas compradas pelo governo brasileiro, a Covaxin é a mais cara e a única em que aparece a figura de um intermediário. Todas as demais foram adquiridas em negociação direita com os laboratórios. No caso da Pfizer, depois de muita insistência da empresa, que o governo deixou sem resposta por meses a fio.
O jornal O Estado de S.Paulo apurou , com base em documentos do Itamaraty, que em agosto a vacina indiana custava US$ 1,34 a dose. Em dezembro, um comunicado do Ministério das Relações Exteriores dizia que era “menos do que uma garrafa d’água”. Em fevereiro, foi comprada por US$ 15, um ágio de mil por cento. Para efeito de comparação, a da Pfizer custou US$ 10.
O requerimento de convocação foi feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), intrigado com outros detalhes da negociação e a suspeita de pressão política. O senador quer saber dos “exatos termos das tratativas” entre a Precisa e o Ministério da Saúde para aquisição da Covaxin “apurando-se eventual beneficiamento ilícito”.
A negociação para a compra da Covaxin foi fechada em três meses. Com a Pfizer, foram nove meses de cartas sem resposta, chás de banco e resistência.
Para piorar a situação, em depoimento ao Ministério Público, cuja transcrição está em poder da CPI, um servidor do Ministério da Saúde apontou "pressões anormais" para a aquisição da Covaxin. O funcionário relatou ter recebido "mensagens de texto, e-mails, telefonemas, pedidos de reuniões" fora de seu horário de expediente, em sábados e domingos.
Quem teria pressionado? O servidor indiciou o coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde do Ministério da Saúde, Alex Lial Marinho. Como se isso fosse pouco, a Precisa está sendo investigada por suspeita de fraude na venda de testes rápidos para a Secretaria da Saúde do Distrito Federal.
Caberá à CPI buscar respostas para pelo menos cinco perguntas:
- Por que o Brasil concordou em pagar mais caro por uma vacina cuja fase 3 de testes ainda não foi concluída?
- Por que as negociações foram mais rápidas do que com os demais laboratórios?
- Por que entrou em cena uma intermediária?
- Quanto a Precisa receberá, a título de comissão, pela intermediação?
- Por que houve pressão para acelerar a compra de uma vacina que ainda não estava aprovada e não de outras, já com os testes finalizados?
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