De todos os momentos constrangedores do depoimento do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) à CPI da Covid, nenhum foi mais patético do que aquele em que defendeu o uso da hidroxicloroquina, dizendo que tomaria outra vez se for contaminado. Em um ato de desrespeito aos médicos que salvaram sua vida no Hospital São Lucas, da PUCRS, Terra chegou ao cúmulo de dizer que talvez tivesse morrido se não tomasse as drogas que tomou por conta própria.
Ora, se a função da cloroquina seria evitar o agravamento da situação para evitar a hospitalização e a morte, como explicar que Terra tenha chegado ao hospital com 80% da função pulmonar comprometida?
Os médicos que atenderam Terra no São Lucas se desdobraram para salvar sua vida usando o tratamento convencional e o mérito é da cloroquina? Palavras textuais do deputado em resposta a uma pergunta da senadora Leila Barros:
— Só tomei quando tive sintomas. Me recusei a ficar esperando piorar tomando dipirona. Meu sintoma principal foi febre. Se eu não tivesse feito nada, poderia ter comprometido mais de 80%. Piorar não piorou.
Confrontado com os vídeos e tuítes das previsões furadas que fez ao longo de todo o ano de 2020, Terra manteve a postura arrogante que caracteriza sua atuação ao longo da pandemia. Justificou a sucessão de erros nas previsões sobre o pico e o fim da pandemia “ao conhecimento que tinha na época” e ao surgimento de novas variantes, ainda que a nova cepa, a P.1, só tenha surgido no início deste ano, em Manaus.
Terra fez malabarismo retórico para defender os atos e omissões do presidente Jair Bolsonaro e explicar a defesa de sua tese de que o fim da pandemia se daria pela imunidade de rebanho, resultado da contaminação em massa. Na CPI, disse que a imunidade de rebanho “não era estratégia, mas consequência”, embora repetidas vezes tenha dito que, quando a vacina chegasse, seria desnecessária, porque a maioria da população já estaria imunizada.
A despeito da coincidência entre suas opiniões e as que o presidente Jair Bolsonaro expressou dias depois, Terra negou que seja conselheiro do Palácio do Planalto ou uma espécie de “ministro do gabinete paralelo”. Declarou-se adepto da vacina, mesmo tendo dito que ela chegaria tarde. E insistiu na teoria de que o lockdown (que não foi adotado em nenhum Estado brasileiro) foi equivocado, mesmo tendo sido o caminho adotado, em combinação com a vacina, para retomar a normalidade da qual o Brasil ainda está distante.
Em mais de um momento, usou os surtos de covid-19 em asilos para justificar sua tese de que “as pessoas se contaminaram em casa”, como se o vírus entrasse voando pelas janelas. Terra ignorou a recomendação dos especialistas de redução da circulação para evitar a disseminação do vírus.
Na mosca
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) foi certeira na contestação à afirmação do deputado Osmar Terra de que a mídia semeia pânico na população:
- Quem está provocando pânico não é a mídia, deputado. É um vírus que já matou mais de meio milhão de brasileiros.
Aliás
A afinidade revelada na CPI entre Osmar Terra e Luis Carlos Heinze (PP) foi tanta que não será surpresa se os dois formarem uma dobradinha em 2022 na eleição para o governo do Estado e para o Senado. Terra deve deixar o MDB na janela de março, e Heinze sugeriu que ele seja candidato a senador.