Faltam cerca de 85 horas para a decisão presidencial sobre o orçamento de 2021. O prazo termina na quinta-feira (22), e o tic-tac da contagem regressiva parece o de uma bomba-relógio que pode explodir nas mãos de quem a montou.
No final da semana, o tema de casa de ministros e líderes do Congresso foi propor uma forma de sair do impasse, mas a manhã de segunda-feira (19) passou sem que um sinal de acordo tenha surgido.
O Congresso aprovou a programação de receitas e gastos de 2021 com um pedalada estimada em R$ 43 bilhões nas despesas obrigatórias. Pagamentos certos, como Previdência, seguro-desemprego, abono salarial e Pronaf, foram cortados para permitir que o valor destinado a emendas parlamentares subisse até R$ 48,8 bilhões.
A semana passada terminou com uma reunião dos envolvidos para que voltassem com soluções nesta semana. O impasse é tão profundo que não se descarta a hipótese de definições só depois do feriado de Tiradentes, apesar de Jair Bolsonaro ter afirmado que a decisão teria de ocorrer nas próximas 12 horas, ou seja, ainda nesta segunda-feira (19).
Ainda que a bomba-relógio seja desativada, alguém sairá chamuscado. Tudo se encaminha para o corte não só de um dos fios, como costumam ser desmontados dispositivos explosivos, mas de dois: um veto parcial ao valor total das emendas parlamentares, seguido por um projeto complementar para recompor as despesas obrigatórias.
O eco do impacto na relação entre o Executivo e o Legislativo pode soar, por exemplo, na CPI da Covid. Quem arca com a maior parte dos danos à imagem é o Congresso e, por isso mesmo, parlamentares começam a se referir a uma parcela do custo extra como "emendas Bolsonaro", ou seja, que teriam sido encomendadas pelo presidente. Corresponderiam a quase metade do total de ao menos R$ 16 bilhões que deve ser vetado: R$ 7 bilhões. Essa é apenas uma referência de valor, não quer dizer que as encomendas presidenciais serão cortadas.
Também sairá chamuscado o ministro da Economia, Paulo Guedes, que chegou a comparar o bate-cabeça em torno do orçamento a macacos que teriam desviado uma nave depois de chegar a Marte. E vai sobrar para Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, que começou a encaminhar a proposta. Na manhã desta segunda-feira (19), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) procurava distribuir melhor a fuligem responsabilizando o "antecessor". Em sua conta no Twitter, além de incluir peças de Maia na bomba-relógio, reclamou do desgasta na imagem do Legislativo:
– Agora, depois de aprovado com amplo acordo que incluiu o governo, as críticas são injustas e oportunistas, cabendo ao governo propor soluções que atendam às demandas acordadas durante a votação, respeitando todos os limites legais e o teto de gastos.