É quase um fio de esperança, mas um dos poucos que permitem amarrar as expectativas neste momento de colapso na saúde e falta de rumo na economia: no mar vermelho de dados do PIB, há uma forte alta que se destaca no último trimestre de 2020.
A coluna costuma dar atenção a um dos poucos sinais de futuro no termômetro do passado: o investimento em construção, máquinas e equipamentos. No terceiro trimestre, havia subido como poucas vezes. No quarto, saltou mais 20% sobre o período anterior.
Sim, uma das explicações para esse ritmo de crescimento de duplo dígito é a fraca base de comparação. Como resultado da recessão entre 2014 e 2016, o indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo havia caído para níveis históricos. Na comparação do trimestre com o período imediatamente anterior, houve 15 trimestres seguidos de queda ou estagnação, ou seja, quase quatro anos de afundamento.
Mas a coluna percorreu toda a base de dados do IBGE até o início de 1996, quando começa a atual série do PIB, e não encontrou nada perto desse salto entre outubro e dezembro de 2020. O mais próximo é mesmo o do terceiro trimestre de 2009, que chegou a 11,1%. Aliás, o avanço de 11% registrado no terceiro trimestre de 2020 foi revisado pelo IBGE para 1o,7%, mas ainda tem o segundo lugar entre as variações históricas.
No acumulado do ano, o investimento produtivo não resistiu ao mar vermelho e recuou 0,8%. Mas é um resultado muito "menos ruim" diante dos recordes negativos de 2020. Para comparar, havia caído 13,9% em 2015 e 12,1% em 2016, quando as quedas no PIB foram menores do que a do ano passado. Boa parte desse movimento veio do setor imobiliário, que foi beneficiado pela necessidade de ficar em casa. É uma luz no fim do túnel, mas não pode ofuscar: para que não vire bolha e estoure, é preciso corrigir o rumo e vacinar, vacinar, vacinar.