Não se deve subestimar o esforço público que permitiu que o tombo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 não fosse o pior da história, embora tenha sido o mais profundo na série com a metodologia atual, iniciada em 1996.
A queda profunda de 4,1% no ano passado, anunciada nesta quarta-feira (3) pelo IBGE, foi menor do que dois precipícios em que o país já caiu, em 1981, empurrado pela crise da dívida, e 1990, com o congelamento da poupança.
Se a economia é um tema complicado, a história ajuda a simplificar: os dois maiores tombos foram provocados por irresponsabilidade fiscal e por intervencionismo inconsequente. Soa familiar? Os precipícios, um criado no regime militar e outro com caminho aberto pelo "caçador de marajás" (como era conhecido Fernando Collor de Mello) são cicatrizes econômicas que deveriam servir de lição do que não fazer no Brasil.
O que afastou o Brasil da queda de 9,1% no PIB profetizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) foi um conjunto formado por auxílio emergencial, flexibilização do trabalho e facilitação de crédito. Tudo feito no governo Bolsonaro, ainda que aos trancos e barrancos e em meio à necessidade de domar uma crise institucional fomentada pelo mesmo líder.
No dia em que o Brasil é informado oficialmente do resultado desastroso de 2020, ainda que menos ruim do que poderia ter sido, o país está diante dos dois riscos que levaram ao afundamento histórico: uma dívida explosiva e um intervencionismo que não mede consequências. E de mais um que não está nos manuais, mas é mensurável diante da história que se desenrola, nestes instantes, diante de nossos olhos: a displicência no combate à pandemia.
Se a responsabilidade com a gestão da dívida e o freio ao intervencionismo são condições de médio prazo, há uma urgência para corrigir: o evidente fracasso no Plano Nacional de Imunização (PNI). A exasperação com "falhas grosseiras" inclui economistas, empresários, governadores, prefeitos. Mas a solução é muito mais fácil do que a da dívida e a da vocação intervencionista: é só vacinar, vacinar, vacinar. Agora, é só o que pode evitar o desastre iminente de 2021.