Sob efeito da pandemia de coronavírus, a economia brasileira desabou. Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 4,1% em relação ao ano anterior.
Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (3), o resultado é o pior já registrado na série histórica, iniciada em 1996. Em valor corrente, a soma de todos bens e serviços produzidos no país atingiu R$ 7,4 trilhões. Levando em consideração série mais longa, com início em 1901 e elaborada pelo IBGE e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o desempenho foi o mais fraco desde 1990 (-4,35%).
O tombo histórico já era esperado por analistas e veio mesmo com a elevação de 3,2% no quarto trimestre de 2020 ante os três meses imediatamente anteriores — foi o segundo período consecutivo de alta. Na comparação com o quarto trimestre de 2019, o PIB brasileiro encolheu 1,1%.
No início da pandemia, o mercado chegou a cogitar queda de até 9% na economia brasileira. Economista e professor da Unisinos, Guilherme Stein lembra que a flexibilização do distanciamento social reaqueceu a atividade econômica e a implementação do auxílio emergencial e do programa voltado à manutenção de empregos auxiliaram a atenuar o tombo. Ainda assim, a melhora do desempenho no segundo semestre foi insuficiente para recuperar as perdas da primeira metade.
- É um resultado, em termos absolutos, muito ruim. A economia brasileira recém tinha passado por uma das suas crises mais profundas da história recente (2015 e 2016), a recuperação vinha lenta e a crise do coronavírus tornou as coisas mais difíceis - resume.
O desempenho negativo em 2020 foi puxado pelo setor de serviços, principal motor da economia, que teve retração de 4,5%. A atividade foi fortemente impactada pela queda da demanda, na esteira do fechamento temporário de estabelecimentos e das restrições implementadas para conter o avanço do vírus.
Entre os principais destaques negativos do ramo estão o comércio (-3,1%) e transporte, armazenagem e correio (-9,2%).
Já a indústria, que na reta final do ano teve de enfrentar a escassez de matéria-prima, recuou 3,5%. No segmento, a construção despencou 7%. Ao mesmo tempo, a indústria de transformação caiu 4,3%, puxada principalmente pelo ritmo mais lento na fabricação de veículos.
Vivendo um ano histórico, marcado por safra e preços recordes dos grãos, a agropecuária foi na contramão e cresceu 2%.
Pelo lado da demanda, o destaque negativo ficou por conta do consumo das famílias, que apresentou queda de 5,5%, a maior já registrada desde 1996. Já os investimentos privados (formação bruta de capital fixo) caíram 0,8%, enquanto o consumo do governo recuou 4,7%. No comércio exterior, as exportações apresentaram recuo de 1,8% e as importações de 10%, segundo o IBGE.
Comparação com o mundo
A pandemia não afetou somente o PIB do Brasil. Ranking produzido pela agência de classificação de risco Austin Rating, com dados de 50 países, coloca o Brasil em 21º lugar.
Apenas três nações do levantamento conseguiram crescer em 2020 (Taiwan, China e Turquia), enquanto 47 economias se contraíram. Os Estados Unidos viram o produto interno bruto se reduzir em 3,5%, e a Zona do Euro, em 7,2%.
No geral, o estudo indica queda de 4,8% no ano passado. No entanto, quando analisada a situação apenas dos Brics, grupo de economias emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a situação brasileira é pior: o conjunto de nações teve recuo de 3%.
Para o economista-chefe da agência, Alex Agostini, problemas estruturais fazem com que o Brasil tenha um resultado pior do que o de seus pares.
— Historicamente, o Brasil tem um baixo nível de investimento em relação ao PIB. Outro fator que pesa é que, de 2014 para cá, o país entrou em um ciclo negativo de desarranjo fiscal — destaca.
Agostini lembra que, após a recessão entre 2015 e 2016, a economia brasileira vinha em uma retomada lenta entre 2017 e 2019. Isso também pesou para que o impacto da pandemia no PIB de 2020 fosse maior do que na média de outras nações dos Brics.
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