A edição híbrida da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) assistiu a um discurso de abertura menos agressivo do que o do ano passado.
Ao cumprir a tradição iniciada no pós-guerra, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, repetiu mais palavras vazias do que ataques ultrajantes, como se temia. Chamuscou, mas não transformou a "marca Brasil" em cinzas, o que foi um alívio.
Em meio à inquietação mundial com queimadas na Amazônia, e agora também no Pantanal, Bolsonaro insistiu no discurso de que o Brasil é alvo de "brutal campanha de desinformação", segundo ele decorrente do fato de o país ter se tornado o maior produtor mundial de alimentos. Mas não repetiu o argumento ensaiado na véspera pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, sobre as "nações estrangeiras" que querem "prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro". Dedicou parte do pronunciamento a valorizar os ativos ambientais nacionais.
Embora tenha citado, como se esperava, a "tolerância zero com crime ambiental", chamou atenção por não ter feito menção ao Conselho da Amazônia, comandado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Nesse caso, há um abismo entre discurso e prática. Ao tentar apresentar credenciais nessa área, ao menos o presidente brasileiro admite que natureza preservada é um ativo valorizado no século 21. Pareceu reconhecer que cumprir esse requisito é essencial para manter o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE), ao citar:
– Seguimos comprometidos com a conclusão dos acordos comerciais do Mercosul com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (formado por países que não estão na UE), que têm importantes cláusulas que reforçam nossos compromissos de proteção ambiental.
Para Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo e presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), o discurso foi "menos beligerante" do que o de 2019, mas ao ser mais focado no público interno do que no externo, representou uma perda de oportunidade:
– Ainda foi um discurso muito para dentro, quando na verdade o Brasil precisa, como nunca, conversar com a opinião pública mundial. E tem de fazer isso assumindo compromissos de redução do desmatamento e da ilegalidade na Amazônia, como as atividade de garimpo. O Brasil já fez isso em vários governos anteriores, de várias orientações.