O presidente Jair Bolsonaro fez, nesta terça-feira (22), o discurso de abertura da 75ª edição da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde 1949 cabe ao representante brasileiro fazer a fala inaugural do evento — realizado pela primeira vez de forma virtual devido à pandemia de coronavírus.
No discurso, Bolsonaro afirmou que o Brasil é "vítima da desinformação" sobre o Pantanal e a Amazônia, destacando que o país "contribuiu para que o mundo continuasse alimentado" e que o agronegócio brasileiro respeita a "melhor legislação ambiental do planeta".
— Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil — salientou.
Segundo o presidente, a floresta é úmida, fato que não permite a propagação do fogo, e os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, "onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas".
— Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes — complementou.
Covid-19
Logo no início do discurso, Bolsonaro falou sobre a covid-19, afirmando que o tema "ganhou o centro das atenções ao longo desse ano". O presidente lamentou as mortes, mas manteve o discurso de defesa da economia em meio à pandemia:
— Desde o princípio alertei em meu país que tínhamos dois problema que deveríamos resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
O presidente também aproveitou a fala para criticar as medidas de isolamento, atacando os Estados e parte da imprensa:
— Como aconteceu em boa parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema "fica em casa e a economia a gente vê depois", quase trouxeram o caos social ao país.
Auxílio emergencial
Ao elencar medidas do governo brasileiro contra a pandemia, Bolsonaro citou a destinação de verbas para a área da saúde, assistência a famílias indígenas, investimento na potencial vacina de Oxford e o auxílio emergencial:
— Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior. Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente US$ 1 mil para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo.
Óleo na costa brasileira
Em dois momentos, o presidente destacou a Venezuela em seu discurso. No primeiro, Bolsonaro citou o derramamento de óleo que atingiu a costa brasileira no ano passado, destacando que o produto era venezuelano e "vendido sem controle":
— Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo. O Brasil considera importante respeitar a liberdade de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Entretanto, as regras de proteção ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade, para que agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros países.
Na sequência, o chefe do Executivo voltou a elencar a operação que acolheu venezuelanos no Brasil como medida humanitária:
— A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana. Com a participação de mais de 4 mil militares, a força-tarefa logística-humanitária busca acolher, abrigar e interiorizar as famílias que chegam à fronteira.
Política externa
Bolsonaro afirmou que o Brasil reforçou a abertura comercial a partir do seu governo e apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC):
— Em meu governo, o Brasil, finalmente, abandona uma tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a ferramenta indispensável de crescimento e transformação. Reafirmo nosso apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas realidades internacionais. Estamos igualmente próximos do início do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos as práticas mundiais mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação financeira até os domínios da segurança digital e da proteção ambiental.