Nesta semana de inquietações pandêmicas e climáticas, o governo Bolsonaro começou a montar um pacote de medidas para tentar tranquilizar investidores estrangeiros sobre a politica ambiental do Brasil, que inclui campanha publicitária, videoconferências com investidores e convites a embaixadores da União Europeia para sobrevoos na Amazônia.
A virada ocorre depois da carta aberta de fundos que administram quase R$ 20 trilhões em investimentos pedindo "compromisso claro com a eliminação do desmatamento e a proteção dos direitos dos povos indígenas" para continuar investindo no Brasil e na semana em que o Brasil registrou, em junho, o maior número de queimadas na Amazônia dos últimos 13 anos, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
– A ficha caiu no governo, mas agora só declarações não bastam. Talvez fossem relevantes no ano passado, mas neste ano, depois de tudo que ocorreu, é preciso adotar metas de redução de desmatamento e apresentar resultados – afirma Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ, com acento da sigla), que representa empresas que investem em florestas plantadas.
O governo se movimenta no início da chamada "temporada seca" na região. No ano passado, o auge da crise ambiental ocorreu em agosto, quando o presidente Jair Bolsonaro reagiu com agressividade, descaso e deboche a pressões para que seu governo adotasse medidas para frear as queimadas na Amazônia.
– Quando o governo se mexe, é positivo, mas é preciso que entenda onde está o problema. Não é de comunicação. É de ação. O que o mundo quer ver é como vamos diminuir o desmatamento, a ilegalidade, o crime, a grilagem, como vamos tratar os grupos tradicionais na região. Não adianta estourar o país para amealhar simpatia de meia dúzia de admiradores e votos. É preciso ver o prejuízo para o país. Começamos a ver portas fechando para o Brasil, e não só no agro. Todos os setores estão enfrentando isso. E agora outra porta pode se fechar, a do financiamento internacional, que dá sinais de absoluta impaciência com o que está acontecendo no Brasil. Não se trata de ser contra ou a favor de um grupo político, mas do interesse do país e dos brasileiros – afirma Hartung, que governou o Espírito Santo.
Segundo Hartung, o ano passado foi "horroroso" para a imagem do Brasil no Exterior e este pode ser pior, diante dos dados que existem até agora.
– Houve uma demoras muito grande para reagir. No ano passado, já havia ficado claro que o governo tinha de mudar sua postura e fortalecer a ação do Ibama e do Incra na Região Amazônica. Quando foram a Davos, o ministro da Economia e o presidente do Banco Central voltaram conscientes do tamanho do problema. O governo fez um gesto, que foi reativar o Conselho da Amazônia. É relevante, mas não ataca o problema. É preciso criar metas objetivas, porque o desmatamento saiu do controle de novo – apela Hartung.