O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte avalia que o Brasil inicia 2020 com possibilidade de engatar retomada mais consistente. Por outro lado, a analista lembra que há riscos no cenário, como eventuais turbulências políticas e dificuldades no ambiente internacional.
Como descreve o cenário para a economia brasileira no começo de 2020?
Embora exista bom humor, com bolsa de valores batendo recordes e melhora nas expectativas de crescimento, vejo vários desafios para o Brasil. Há questões internas que devem ser resolvidas, especialmente no âmbito das reformas. Sempre entramos em um novo ano com a esperança de que as coisas vão melhorar. Em 2020, vamos ver se teremos ou não avanços na coesão entre o governo federal e o Congresso. Temos pontos positivos, mas há muita coisa a ser desbravada, tanto lá fora quanto internamente.
Quais são os principais fatores que podem estimular a economia nacional?
Temos a política monetária expansionista. Representa um fator importante para a atividade econômica. Além disso, o cenário ainda é de reformas. Encerramos o ano passado com a da Previdência entregue. Agora, precisamos ver avanço em outras reformas, como a tributária e a política, que ficaram pendentes. Caso o Congresso se mantenha disponível a dar continuidade aos projetos, será algo positivo neste ano.
E quais são os principais riscos que podem frear a reação?
Chamo atenção para o nível de confiança ainda baixo no país. Para o Brasil entrar em rota de crescimento sustentável, temos de avançar com investimentos. Precisamos de aportes estrangeiros. Não tem jeito. O gringo tem de ver uma história positiva no Brasil. As derrapadas do governo, que parecem coisas pequenas, como a briga com a França, acabam "sujando" o nome do país. É preciso mudar esse perfil. Sem mudança, o gringo pode continuar fugindo daqui. Outro ponto é a agenda internacional, marcada pelas eleições nos Estados Unidos e pela disputa americana com a China. São questões que podem atravancar o fluxo de investimentos em mercados emergentes, como o Brasil. O investidor pode ficar parado, observando os resultados com cautela.
O quanto a disputa entre Estados Unidos e Irã pode atrapalhar o Brasil?
É lógico que uma questão geopolítica como essa pode causar problemas. É um fator de risco, sem dúvidas. Mas, para falarmos que o aumento do preço do petróleo vai bater na inflação e no juro no Brasil, ainda é cedo. Trata-se de um sinalzinho amarelo.
Analistas preveem leve melhora no mercado de trabalho em 2020. Qual sua avaliação?
É importante ter em mente que o mercado de trabalho age de forma defasada. É sempre a última variável a ter mudança. O Caged (levantamento do Ministério da Economia) mede fluxo de trabalho formal. De fato, houve melhora na margem, mas isso demora para bater na taxa de desemprego. Com cenário melhor para a economia, o desemprego deve começar a cair de forma mais consistente em algum momento no segundo semestre.