Parecia que os danos à imagem do Brasil provocados pela crise aberta por declarações do presidente Jair Bolsonaro a respeito da Amazônia, se não haviam sido resolvidos, ao menos estavam contidos. Mas nesta terça-feira (8), a ministra do Meio Ambiente da França, Elisabeth Borne, fez a ameaça mais concreta até agora sobre a polêmica, envolvendo o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), maior façanha do atual governo em negociações internacionais.
– Não vamos assinar um acordo com um país que não respeita a floresta amazônica, que não respeita o Acordo de Paris. A França não vai assinar o acordo com o Mercosul sob as atuais condições – disse em entrevista à BMF TV (canal de notícias francês com sinal aberto criado em 2005).
Até pelos termos – não assinaria "nas condições atuais" – a ameaça deve ser entendida como o que realmente é, ou seja, uma ameaça. Mas não seria nem alvo de atenção se o presidente Jair Bolsonaro não tivesse aberto uma crise com a França ao longo de diversos episódios, da desfeita ao ministro das Relações Exteriores do país, Jean-Yves Le Drian, aos comentários irresponsáveis sobre as queimadas na Amazônia, sem contar o deboche com a mulher do presidente Emmanuel Macron.
Em pelo menos um dos pontos citados pela ministra, o governo brasileiro já voltou atrás. Se é fato que, na campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a ameaçar abandonar o Acordo de Paris, como fez seu ídolo Donald Trump, foi convencido por apoiadores do setor privado de que a iniciativa seria um tiro no pé. Além das óbvias diferenças de dependência externa entre Estados Unidos e Brasil, o país de Cabral ainda se beneficia mais do que precisa entregar pelos termos do acordo.
Outra questão a ser considerada é que ainda falta muito tempo para que o acordo chegue ao ponto de ser submetido à aprovação dos países-membros da União Europeia. Talvez sequer o governo francês seja o mesmo quando esse momento chegar. Então, a ameaça é exatamente isso: uma advertência. O comportamento do Brasil não foi esquecido nem perdoado, e o país terá de provar que tem outra postura para poder aproveitar os benefícios que prometeu ao anunciar o acerto.
Atenção: em breve, você poderá acessar o site e o aplicativo GaúchaZH usando apenas seu e-mail cadastrado ou via Facebook. Não precisará mais usar o nome de usuário. Para saber mais, acesse gauchazh.com/acesso.