Até uma surpreendente frase do presidente Jair Bolsonaro, a barulhenta ressurreição da CPMF, ainda que em nova encarnação, havia sido esquecida. Bastou que o presidente dissesse "todas as alternativa estão sobre a mesa", ao responder a uma pergunta sobre o tributo, para desatar uma onda de inquietação no mercado financeiro e entre empresários.
Ao tentar esclarecer o que Bolsonaro quis dizer, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, foi mais hábil em confundir:
— Essas questões muito técnicas, incluindo CPMF ou coisa que o valha, ainda não estã no escantilhão do próprio presidente.
"Escantilhão", dizem os dicionários, é uma medida padrão para definir distâncias. Além da palavra desconhecida para a grande maioria dos brasileiros, o porta-voz ainda deixou aberta a porta da recriação de um tributo sobre movimentações financeiras ao afirmar que "eventualmente, pode estar sendo analisado pelo Ministério da Economia". Tudo isso ocorreu no final da segunda-feira, mas ainda ecoava nesta terça-feira.
Empresários seguem irredutíveis: nem o discurso do ministro da Economia, de que a CPMF "ou coisa que o valha" seria usada para reduzir os ônus sobre a folha de pagamento os comovem. Rejeitam o tributo sobre movimentações financeiras de forma absoluta. O "ruído da CPMF", como o episódio de segunda-feira ficou conhecido no mercado, nem havia sido totalmente abafado, e veio novo barulho das bandas da Economia. A assessora especial e secretária-executiva do grupo de reforma tributária da pasta, Vanessa Canado, disse ontem que há planos para elevar a tributação sobre os mais ricos no Brasil. Mas ressalvou que será feito de forma a evitar fuga de fortunas do país.
A reforma tributária é umas das prioridades do Brasil em 2020. Existe uma unanimidade e até a consciência dos contribuintes de que não é possível reduzir a carga tributária no país. Em vez de produzir sons dissonantes, a equipe deveria se concentrar em tentar atender a expectativa de 10 entre 10 brasileiros: reduzir ao menos a burocracia e o cipoal de regras para pagar impostos no Brasil. Já passou da hora.