O esperado e confirmado corte de 0,25 ponto percentual (pp) na taxa de referência nos Estados Unidos, horas antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil, facilita a decisão nacional, também cercada de expectativa. Este foi o primeiro corte desde os anos que antecederam a crise de 2008, que mergulhou os EUA e boa parte do mundo em recessão. Com a redução do intervalo para a faixa entre 2% e 2,25% – antes era entre 2,25% e 2,5% –, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) reforça as expectativas de diminuição no custo do dinheiro por aqui também. Com o mercado dividido entre apostas de poda na taxa Selic de 0,25 pp e 0,50 pp, se a decisão for a mais conservadora, não influirá na relação entre as duas taxas, que preocupa o mercado financeiro.
A diferença entre o juro cobrado lá e a taxa aplicada aqui é importante porque os investimentos são definidos com base em risco e retorno. Quanto maior o primeiro, mais alto precisa ser o segundo. Então, se o Brasil quiser atrair aplicações externas de curto prazo, precisa manter certa "folga" em relação à taxa americana, destino considerado o mais seguro do mundo.
A decisão do Fed foi acompanhada da tradicional entrevista concedida por seu presidente, Jerome Powell, que caracterizou a poda americana como "ajuste". O mercado leu que pode vir a ser uma única redução de juro, não o início de um ciclo de queda, como se especulava. Isso reforçou o dólar frente a outras moedas, mas fez a bolsa recuar, porque haverá menos pressão para os investidores buscarem aplicações de renda variável, como as ações.
Aqui, embora haja divisão entre apostas de corte de 0,25 pp e 0,50 pp, a poda mais discreta tem leve predominância entre economistas que apontam o perfil mais conservador do atual presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto. A redução no juro, neste momento em que a economia nacional ainda patina, com risco de concretizar um período de recessão técnica, é uma das poucas medidas de estímulo disponíveis, diante da falta de recursos públicos e do pouco apetite da equipe econômica por incentivos. Depois da frustração com a liberação do FGTS, pode ser o sinal de que o segundo semestre possa ser melhor do que o decepcionante desempenho na primeira metade do ano.