Será anunciado na tarde desta segunda-feira (8) o novo presidente da CEEE, que será responsável por uma das tarefas mais delicadas no governo do Estado. Marco da Camino Soligo, 51 anos, casado, um filho e quatro enteados, tem sobrenomes familiares no Estado, mas é paulista, com milhagem no Rio Grande do Sul. Entre 2007 e 2009, atuou no Estado como diretor da Rio Grande Energia, quando a empresa passava por uma transição: a saída da americana Public Service Enterprise Group (Pseg), deixando apenas a CPFL como acionista da distribuidora gaúcha. Soligo vai assumir a estatal mais endividada do Estado ciente de sua missão: evitar que o braço de distribuição da empresa perca a concessão e preparar a companhia para uma possível privatização.
Em julho, a companhia vai descumprir os indicadores exigidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a renovação condicionada da concessão, definida em 2015. Conforme os termos do acordo, caso a empresa descumpra os critérios por dois anos consecutivos ou três intercalados, perde o direito de vender energia na área em que atende (Capital, Região Metropolitana, Litoral Norte e Metade Sul). No balanço de 2017, graças a uma manobra contábil, a estatal parou o relógio. Com resultados ainda piores no ano passado, começará a sofrer pressão da Aneel.
A boa notícia é que Soligo conhece o setor elétrico, uma raridade entre os presidentes da CEEE. Atua desde 1995, desde em grandes empresas, como a CPFL, em regionais, como a RGE, e em focadas, como o Grupo Gomes Lourenço, focado em pequenas centrais hidrelétricas. Na CPFL, acompanhou de perto a oferta inicial de ações da companhia, em 2004, o que pode ajudar na definição dos rumos da privatização da CEEE. Soligo diz estar preparado para o duplo desafio: convencer a Aneel que a companhia está buscando uma solução – no caso, a venda para um investidor capaz de fazer o aporte de recursos necessário para a empresa – e ajudar na modelagem da desestatização.
– Tenho muita admiração pelo Rio Grande do Sul. O Estado tem um potencial muito grande e não deveria estar na situação em que está. Quando fui convidado, fiquei feliz em receber essa missão para ajudar, que vou encarar com espírito público. A gestão será muito serena, no sentido de fazer a razão prevalecer sobre a emoção. Sei que o objetivo do governo é desestatizar a CEEE. Meu papel é conseguir o melhor negócio possível para todas as partes – detalha Soligo.
Na época em que atuou na CPFL, Soligo trabalhou diretamente ligado a Wilson Ferreira Júnior, atual presidente da Eletrobras, estatal federal que tem 32,5% da CEEE. Portanto, é próximo de um tomador de decisões estratégico para o processo de privatização, que conforme sua estimativa ainda pode tardar de um ano e meio a dois. Ainda não há modelo definido para a venda, confirma. Não há decisão tomada se será vendida a holding (CEEEpar), se os dois braços – CEEE Geração e Transmissão (CEEE-GT), a parte "boa", e CEEE Distribuição (CEEE-D), a mais encalacrada – serão oferecidos juntos ou separados – e se o passivo será incluído na oferta ou não.
Soligo, que usa muleta porque perdeu uma perna para o câncer, mas manteve a vida, pondera que, quando esteve na RGE, uma de suas principais missões era interagir com a equipe para garantir que tranquilidade nos processos de transformação da empresa:
– Essa experiência na RGE me deu consciência de que os colaboradores temem que sua vida mude para pior. Precisamos conversar com as pessoas. Não se buscará conflito, e tudo o que puder ser feito para suavizar o processo será feito. Desde a semana passada, estou estudando todos os balanços e os estatutos sociais da empresa.