Sob o risco de perder a concessão pelos sucessivos balanços ruins, a CEEE-D, braço de distribuição do grupo controlado pelo Estado, teve ano passado prejuízo de R$ 989,3 milhões, 1.030% acima do exercício anterior. O resultado negativo é explicado por fatores contábeis que melhoraram artificialmente o resultado de 2017, explica o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Cezar Lindenmeyer. Um deles foi a transferência para a companhia do imóvel onde fica a sede do grupo, que estava em nome da CEEE-GT, de geração e transmissão. Enquanto isso, o Piratini segue na tentativa de privatizar o grupo.
Qual é a explicação para o salto no prejuízo da CEEE-D?
Ele cresce por conta de não ter havido uma capitalização adequada no final do ano passado para cobrir os déficits que a companhia tem. Isso faz com que, de forma recorrente, o nosso endividamento suba. Se deve por um aumento de endividamento em dólar, que tem o impacto da variação cambial. E porque a forma que nós encontramos de financiar o déficit foi aumentando o endividamento e, por consequência, elevando a nossa despesa financeira.
Qual foi a influência de fatores não recorrentes?
Os eventos não recorrentes são exclusivamente do exercício de 2017 e fizeram com que, naquele ano, tivéssemos um resultado menos ruim do que seria normal, sem esses eventos. Em 2018, aparece o prejuízo real da companhia. Agregado a ele, o impacto da despesa financeira crescente e da variação cambial.
Como tem sido gerenciar o dia a dia da companhia?
É um exercício diário de muita dificuldade. Não é fácil rolar a dívida sem uma companhia minimamente habilitada para fazer isso. É um esforço que não é exclusivamente meu, é de muitas pessoas aqui de dentro. E no paralelo ainda ter de investir para manter os indicadores dentro dos princípios das exigências da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Vê viabilidade na empresa?
Acredito que seja viável, desde que haja um compatível aporte de capital dos seus sócios. Essa é a primeira ação. A segunda, é um conjunto de medidas para identificar os pontos que precisam ser saneados. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Primeiro, tem de ter um aporte de capital e isso também está previsto no acordo com a Aneel.
Com a situação financeira do Estado, há chance de isso ocorrer?
É decisão do acionista. Temos também a Eletrobras como acionista (além do Estado, majoritário).
E a evolução do endividamento?
É crescente. Em relação a 2017, subiu 60% e chegou a R$ 4,5 bilhões. As dívidas que subiram mais foram as fiscais, e o próprio crescimento da despesa financeira, que vai sendo apropriado na medida em que a gente só rola o endividamento.
Nessas condição financeira, como foi possível melhorar indicadores de qualidade do serviço?
Por conta de investimentos feitos a partir de recursos próprios e tomados do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Agência Francesa de Financiamento. Foram aplicados em melhoria de redes e subestações, fundamentalmente.
Como lida com a possibilidade de perder a concessão?
Esse assunto só se volta a falar em abril de 2020. Temos um ano para tomar um conjunto de medidas que pode fazer a reversão desse quadro. Se vai dar certo, o tempo nos dirá. Vamos continuar fazendo a melhoria desses indicadores. Esse é o nosso papel. Preservar o caixa dentro do possível, formando um colchão de liquidez que foi o objetivo de todo o segundo semestre do ano passado. E exercendo um papel junto ao acionista para que ele também assuma sua responsabilidade na empresa.
Em que estágio está a venda das participações minoritárias da CEEE Geração e Transmissão?
Em stand by. Esperando nova decisão do acionista. Mas ela está aberta dentro da B3, aguardando esse posicionamento. A CEEE-GT é uma empresa que funciona quase como relógio suíço. Tem um comportamento muito parecido ao longo dos anos que vão se passando, com pequenas oscilações.