Um eventual terceiro governo Lula, um Lula 3, se apresenta até agora distante de adotar as feições de Lula 1, quando o ex-metalúrgico angariou reconhecimento internacional e enorme popularidade interna. Pelo que o pré-candidato vem dizendo, ou deixando de dizer, um possível Lula 3 ensaia o roteiro de Dilma 1 e sua desastrosa intervenção na economia.
Ainda antes do primeiro mandato, Lula avisava que, por poder vir a ser o primeiro presidente oriundo da classe operária, não tinha direito de errar. De fato, Lula chegou ao Planalto como um estudante aplicado, disposto a ouvir e a não retorcer leis primárias da economia, sob pena de fazer o país fenecer aos moldes da Argentina e sua perene crise de moeda.
Agora não. Em vez de assimilar que o mundo deu muitas voltas desde que desceu a rampa do palácio, Lula recita uma ladainha que já levou o país ao abismo: gastança como se não houvesse amanhã, ataques ao mercado, aversão a reformas minúsculas e sinais de que voltará a inchar a máquina pública.
Lula costuma repetir que fará o “ajuste social” em vez de “ajuste fiscal”, o que é uma boa frase de efeito e só, porque o primeiro é resultado do segundo. Lula, ao menos, poderia aprender com os erros de seu maior adversário, Jair Bolsonaro, que, na busca desesperada pela reeleição, implodiu o teto de gastos, abriu os cofres à voracidade do centrão e enterrou de vez o mito de um governo liberal na economia.
Nem precisa-se adivinhar no que resultaria um governo Lula intervencionista. Ao abalar os alicerces da estabilidade fiscal, Bolsonaro já providenciou a escalada do dólar, a derrubada das bolsas e a quarta inflação mais alta no G20, atrás apenas da Turquia em que o presidente age como chefe do Banco Central, da Argentina eternamente populista e da Rússia sob sanções pesadas.
Tendo vivido o que viveu, não surpreende que Lula 3 faça ouvidos moucos a novidades. Não é só a nova liturgia do politicamente correto que constrange Lula a não contar mais piada de nordestino, a parar de apregoar que está “cheio de tesão” para governar ou que deve substituir “índios” por “indígenas”. Lula segue agarrado a contradições de, em pleno 2022, avalizar ditaduras, como Cuba e Nicarágua, de não dizer um ai ao expansionismo sangrento da Rússia e de defender soberanias enquanto a China amarra cadeados de fidelidade em nações empobrecidas ao assumir grande parte de sua infraestrutura.
Lula imagina que Geraldo Alckmin é sua nova Carta aos Brasileiros. Não é, porque o vice sempre pode ir para o desterro, a exemplo do que o destempero de Bolsonaro fez com a racionalidade de Mourão. E, como se vê na eleitoreira PEC Kamikaze, irresponsabilidade fiscal e suas mazelas são artigos caros mas fáceis de comprar no bazar de um populismo rasteiro que já não distingue matizes ideológicos.