Em função da migração do público para os shopping centers, os cinemas de rua de Porto Alegre entraram em decadência na década de 1990. Grandes salas, lotadas em outros tempos, ficaram esvaziadas. Na noite de 30 de junho de 1994, uma quinta-feira, três clássicos cinemas da cidade fecharam as portas. Capitólio, São João e Marrocos eram administrados pela Fama Filmes.
Os cinemas São João, na Avenida Salgado Filho, e Capitólio, na Avenida Borges de Medeiros, exibiam filmes pornográficos na fase final. Na sala com mais de 600 lugares, apenas 21 espectadores assistiram ao último filme no Cine São João. Em entrevista à reportagem de Zero Hora, o projetista Édison Gomes Neves lamentou o "final melancólico".
— É desagradável, esse filme é um lixo — comentou o funcionário indignado.
No Capitólio, o cartaz do filme pornô contrastava com a beleza do prédio de 1928, dos lustres de cristal e da forração púrpura. Na sessão das 21h daquela quinta-feira, apenas 20 espectadores estavam na sala. O gerente do cinema, João Jorge Dias, lamentou que o Capitólio "não resistiu à migração de clientes para as salas de centros comerciais". A sala lotada em outros tempos ficava apenas na memória dos antigos frequentadores.
No Cine Marrocos, na Avenida Getúlio Vargas, nem quiseram projetar a última sessão, que teria o filme Filadélfia. O letreiro luminoso incompleto na fachada já indicava que o fim estava próximo. Quando o relógio marcava 22h05, após enrolar o filme Jamaica Abaixo de Zero, o projetista Dalci Scheel apagou as luzes e fechou as portas da sala.
A sala do cinema Marrocos é ocupada por estacionamento. O Cine São João é um espaço comercial. O prédio do Capitólio foi restaurado e virou a Cinemateca Capitólio, mantida pela prefeitura de Porto Alegre.