A grande enchente de 1941 no Rio Grande do Sul gerou uma onda de solidariedade no Brasil. Mesmo em período sem televisão e internet, as notícias sobre o drama dos gaúchos mobilizaram moradores de outros estados. As imagens e informações sobre os estragos eram publicadas por jornais e revistas. As rádios também transmitiam as notícias.
Entidades, empresas e veículos de comunicação doaram dinheiro e materiais aos flagelados. Em Joinville, por exemplo, a Associação Comercial e Industrial liderou o movimento. Grupos de senhoras percorriam as ruas da cidade catarinense para coletar doações. A Cruz Vermelha dos Estados Unidos enviou carregamento de medicamentos em avião do Exército norte-americano.
Em São Paulo, o governador Adhemar de Barros ofereceu o seu salário de um mês. Na edição de 14 de junho, a Revista do Globo publicou a foto da entrega do cheque de nove contos de réis ao presidente do Centro Gaúcho, Oscar Tollens, que era representante da revista gaúcha na capital paulista. O que era possível comprar com o valor? A imprensa publicou que o governo gaúcho gastava diariamente 24 contos de réis na alimentação dos abrigados em Porto Alegre. Outra comparação pode ser feita com o Gre-Nal realizado durante a enchente, que arrecadou 15 contos de réis na bilheteria.
O médico Adhemar de Barros era interventor federal em São Paulo durante o Estado Novo, ditadura liderada pelo gaúcho Getúlio Vargas. Ele foi governador paulista outras duas vezes, além de prefeito de São Paulo.
O presidente Getúlio Vargas não veio ao Rio Grande do Sul durante a calamidade, optando por enviar seus ministros. Em 10 de junho, um mês depois do momento mais crítico da enchente, o interventor federal Oswaldo Cordeiro de Farias, que governava o Estado, viajou ao Rio de Janeiro. Na bagagem, levou um filme sobre a enchente para apresentar ao presidente da República. Porto Alegre ainda estava com 500 abrigados. No meio de maio, a cidade teve mais de 17 mil pessoas em 84 abrigos. O número total de flagelados oscilou nas notícias entre 60 e 80 mil.
Como foi a enchente de 1941
A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.
Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.
Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.
As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.
Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite de 3 de maio. No madrugada de 5 de maio, foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.