As enchentes históricas de 1941 e 2024 ocorreram no outono, entre o final de abril e maio. Nas duas tragédias, em anos de fenômeno El Niño, a chuva em grandes volumes foi distribuída na maior parte do território do Rio Grande do Sul, devastando lavouras, destruindo casas e estradas, inundando cidades e matando pessoas e animais.
Em Porto Alegre, em 1941, o pico do Guaíba foi 4m76cm em 8 de maio. Em 2024, o nível do Cais Mauá chegou a 5m35cm em 5 de maio.
Em 2024, a enchente foi a maior da história no Vale do Taquari, no Vale do Caí, no Vale do Sinos, na Região Metropolitana e no Sul do Estado. O Guaíba subiu muito mais rápido. Em 1941, em seis dias, passou dos três metros, cota de inundação, aos 4m76cm. Em 2024, o rio subiu a mesma medida em menos de um dia e meio.
Quanto choveu para provocar as duas grandes enchentes? O Álbum da Enchente de 1941, publicado pela Revista do Globo, apresenta a tabela da chuva no período de 10 de abril a 14 de maio. Em 35 dias de observação, em 1941, os maiores volumes foram 905,3 mm em Santa Maria, 895 mm em Soledade, 757,8 mm em Santa Cruz do Sul, 728,7 mm em Cruz Alta, 706,7 mm em Guaporé, 623,6 mm em Taquari, 619,4 mm em Porto Alegre e 603,3 mm em Júlio de Castilhos.
Em 2024, a chuva em volumes parecidos foi concentrada em menos dias, de acordo com dados das estações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Choveu o equivalente à média histórica de quatro, cinco ou seis meses em apenas 18 dias. De 26 de abril a 13 de maio, choveu 835,4 mm em Bento Gonçalves, 812,2 mm em Canela, 747,6 mm em Soledade, 724,4 mm em Serafina Corrêa, 653,4 mm em Cambará do Sul, 632,6 mm em Santa Maria, 586,8 mm em Rio Pardo, 572,2 mm em Campo Bom, 531,4 mm em Tupanciretã e 530,4 mm em Porto Alegre (Jardim Botânico).
A previsão é de mais chuva no Rio Grande do Sul nos próximos dias, portanto ainda não está consolidado o levantamento da precipitação da enchente de 2024.
Enchente de 1941
A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.
Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.
Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.
As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.
Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite da última sexta-feira (3). No madrugada de domingo (5), foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.