Dez dias após o Guaíba atingir o pico da enchente de 1941, Grêmio e Internacional entraram em campo para um amistoso em Porto Alegre. A Rádio Farroupilha promoveu o Gre-Nal número 67 para arrecadação de recursos para os flagelados na cidade. O clássico no Estádio da Timbaúva, do Força e Luz, ficou empatado por 2 a 2.
A Revista do Globo publicou que o "Gre-Nal, denominado 50%, provocou uma verdadeira reviravolta no foot-ball metropolitano". O repasse de só metade da receita do jogo gerou polêmica. Os outros clubes filiados à Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Athleticos (Amgea) não concordaram, porque estatuto exigia o repasse de todo o valor. A entidade foi extinta em meio às discussões.
O jogo ocorreu em um domingo, 18 de maio de 1941. O jornal A Noite, do Rio de Janeiro, publicou que a renda total do jogo foi de 15 contos de réis. No livro A enchente de 41, o jornalista Rafael Guimaraens lembra que a proposta de repassar apenas metade da arrecadação "pegou mal" e a lotação foi de apenas metade das arquibancadas.
Em campo, a partida ficou empatada por 2 a 2. Ivo Aguiar e Malaquias marcaram para o Grêmio. Carlitos e Ruy Motorzinho fizeram os gols do Inter. Além do jogo dos profissionais, ocorreu um amistoso de veteranos, ex-jogadores da dupla Gre-Nal.
O Guaíba estava com nível de 3m25cm, portanto 25 centímetros acima da cota de inundação. A cidade permanecia com áreas inundadas. O nível só ficou abaixo da cota de enchente 32 dias após atingir o pico de 4m76cm.
Em 25 de maio de 1941, ainda com inundação das partes baixas de Porto Alegre, ocorreu o clássico número 68. O Inter venceu por 3 a 2 o amistoso no Estádio da Timbaúva, no bairro Santa Cecília. Outros times de futebol da cidade também realizaram amistosos naquele domingo.
Na enchente de 1941, os estádios de Inter e Grêmio ficavam em áreas mais altas do que na cheia de 2024. O Grêmio treinava e jogava no Estádio da Baixada, no bairro Moinhos de Vento, onde atualmente passa a Avenida Goethe, entre as ruas Mostardeiro e Dona Laura. O campo do colorado era o Estádio dos Eucaliptos, no Menino Deus, onde hoje fica um condomínio residencial.
Ficha técnica (Grêmiopédia)
Grêmio: Edmundo; Dario, Walter; Juvêncio, Noronha, Poroto (André); Sório, Ivo Aguiar, Basílio (Malachias Duarte); Foguinho, Ochottorena. Treinador: Telêmaco Frazão de Lima
Internacional: Rubens; Alfeu e Borges; Niquelagem, Assis, Ávila; Tesourinha, Russinho, Oswaldo Brandão, Ruy Motorzinho e Carlitos. Treinador: Volmy Bocorny
Gols: Carlitos (I), 41 minutos; Ivo Aguiar (G), 42 minutos; Ruy Motorzinho (I), 55 minutos; e Malachias Duarte (G), em pênalti aos 89 minutos.
Árbitro: Pedro Otto Bumbel Berbigier
Enchente de 1941
A chuva no Estado começou em 10 de abril, uma Quinta-Feira Santa. Por 35 dias, o Estado foi castigado pelos temporais. Em Porto Alegre, choveu em 22 dias neste período, acumulando 619,4 milímetros.
Depois do caos no interior, os rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí encheram o Guaíba. Com 272 mil habitantes, Porto Alegre ficou com suas principais áreas comerciais e industriais embaixo d´água no início de maio, quando o vento Sul represou o Guaíba.
Baseados na experiência de outra grande enchente, de 1928, muitos porto-alegrenses demoraram para se convencer da gravidade. Em 8 de maio de 1941, o nível do Guaíba atingiu a marca de 4,76 metros no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros.
As consequências da enchente de 1941 foram sentidas por muito tempo. Em 1967, outra cheia do Guaíba deixaria partes da cidade embaixo d´água. Depois dos traumáticos episódios, Porto Alegre construiu o muro da Avenida Mauá e um sistema de diques.
Na enchente de maio de 2024, a marca de 4m76cm foi superada no início da noite da última sexta-feira (3). No madrugada de domingo (5), foi registrada a maior marca da história do Guaíba no Cais Mauá: 5m35cm.