A grande enchente de 1941 traumatizou nos moradores de Porto Alegre. As histórias de privações e perdas foram compartilhadas por gerações. A chuva já provocava alagamentos nas partes mais baixas da cidade no final de abril de 1941. Na noite de 2 de maio, o Guaíba atingiu a cota dos três metros e começou a alagar outras áreas.
Sem diques, muro e aterramentos ao norte e ao sul do Centro Histórico, o Guaíba invadiu a cidade. O nível no Cais Mauá chegou a 4m76cm em 8 de maio. Pelo censo de 1940, a cidade estava com 272 mil habitantes.
Casas das ilhas ficaram com água até o telhado. Entre os bairros Floresta e São João, morava a classe operária e estavam depósitos comerciais e as indústrias. Quase tudo ficou embaixo d´água. Na Praça da Alfândega, no Centro Histórico, a água foi até a Rua dos Andradas. Cidade Baixa, Menino Deus e Azenha foram invadidos. A água foi da Avenida Praia de Belas até a Avenida Azenha. No bairro Floresta, chegou quase na Avenida Cristóvão Colombo.
No momento mais crítico, a cidade ficou sem energia elétrica, água e comunicação, afetando telefonia e telégrafo. Os bondes pararam. Os jornais não circularam. As três rádios ficaram fora do ar. Informações dos problemas no interior do Estado demoravam para chegar. Em 9 de maio, retornou água e luz em parte da cidade.
A operação dos trens parou em toda a rede da Viação Férrea do Rio Grande do Sul. A navegação também estava limitada devido à força da correnteza dos rios. O Aeroporto de Porto Alegre, no bairro São João, ficou inundado. Os voos precisaram ser transferidos para Canoas.
Por alguns dias, pedestres só podiam circular pela cidade depois das 21h com uma autorização da polícia. A Brigada Militar usou barcos para fazer a segurança nas áreas alagadas. A gasolina ficou disponível apenas para veículos destinados ao socorro.
A Santa Casa de Misericórdia e outros hospitais estavam lotados. A cidade enfrentou surto de leptospirose, com pelo menos quatro mortes. As escolas superiores e secundárias tiveram férias antecipadas para período entre 10 a 31 de maio.
A cidade precisou fazer racionamento de alimentos. O leite só podia ser distribuído para crianças e doentes. O governo do Estado estabeleceu uma tabela de preços para produtos essenciais. Mais de cem comerciantes foram presos por venderem acima do valor da tabela.
Os prédios do Mercado Livre, já demolido, e do Mercado Público ficaram inundados no Centro Histórico. Vendedores de frutas e verduras abriram um mercado improvisado no viaduto da Avenida Borges de Medeiros, entre as ruas Jerônimo Coelho e Fernando Machado.
Em 13 de maio, 17.253 pessoas estavam recolhidas em 84 abrigos, montados em faculdades, escolas e associações. Quantas pessoas morreram na cidade? Sempre foi um número incerto. Em edição de 16 de maio, o jornal carioca Diário de Notícias publicou que já eram 16 mortes por afogamento. Poucos dias depois, noticiou mais um óbito. O número total de flagelados oscilou nas notícias entre 60 e 80 mil.
Em 18 de maio, dez dias depois do pico da enchente, um Gre-Nal solidário ocorreu no Estádio da Timbaúva para arrecadar recursos para flagelados. O Guaíba permanecia em 3m25cm, portanto 25 centímetros acima da cota de inundação.
Os jornais publicaram, em 21 de maio, um balanço feito pelo secretário estadual das Finanças, Oscar Fontoura. Pelos dados, 90% das indústrias de Porto Alegre e o grosso do comércio foram atingidos, somando 1,2 mil casas comerciais e 300 indústrias. Grandes fábricas de tecidos ficaram com máquinas submersas por mais de 15 dias. A fábrica da Renner, que empregava mais de dois mil operários, a água chegou a metro e meio de altura.
O Guaíba voltou ao nível da muralha do cais do porto em 22 de maio, mesmo assim continuavam alagamentos nos bairros como Menino Deus, São João e Navegantes. Com mais chuva, voltaria a ficar acima da cota nos dias seguintes.
Em 3 de junho, o jornal carioca Diário da Noite publicou que 3,5 mil pessoas ainda estavam em abrigos de Porto Alegre. Com a chuva, ainda continuavam alagamentos em pontos como a Rua dos Andradas e a Rua Voluntários da Pátria.
O interventor Oswaldo Cordeiro de Farias, governador do Estado, disse que 60 mil moradores dos bairros São João e Navegantes foram atingidos. Em 10 de junho, ele viajou ao Rio de Janeiro e levou um filme sobre a enchente para apresentar ao presidente Getúlio Vargas. A cidade permanecia com 500 abrigados.
Em 14 junho, o jornal Correio da Manhã noticiou que o Guaíba estava baixando, já na cota de 1m87cm, portanto abaixo do nível de inundação.
O Rio Grande do Sul viveu longo período para recuperação. A grande enchente de 1941 ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.