O brigadeiro - chamado de negrinho no Rio Grande do Sul - é um docinho quase obrigatório nas festas de aniversário. A receita simples necessita de leite condensado, manteiga/margarina, chocolate em pó e chocolate granulado. A origem do nome está relacionada à eleição presidencial de 1945. O brigadeiro Eduardo Gomes disputou a vaga com Eurico Gaspar Dutra e Iedo Fiúza.
Depois da ditadura do Estado Novo, os brasileiros foram às urnas para escolher o substituto de Getúlio Vargas, que renunciou antes de ser deposto por militares. Pela primeira vez, todas as mulheres tiveram direito ao voto. Um grupo de eleitoras do Rio de Janeiro fez campanha e arrecadou dinheiro para Eduardo Gomes, candidato da União Democrática Nacional (UDN), opositor de Vargas. Como? Vendendo docinhos nos comícios.
Heloisa Nabuco de Oliveira fez os docinhos com leite condensado e os ofereceu para senhoras em uma reunião de apoio ao candidato da UDN. Em homenagem ao militar, o chamou de brigadeiro. Naquela época, o leite condensado começava a ser mais usado na culinária. Como já contei aqui na coluna, o produto inicialmente era destinado mais à alimentação infantil e até bebido misturado com água.
É difícil saber se Heloisa realmente foi a primeira a fazer o doce ou somente teve o mérito de escolher o nome que ficou mais popular. Fiz muitas pesquisas em jornais e revistas das décadas de 1940 e 1950 em busca de publicações com a receita. Em um sistema digital de buscas na Biblioteca Nacional, a primeira referência é de 1949. A Revista Cruzeiro divulgou a receita do brigadeiro, sem citar quem a criou. Curiosamente, em edição posterior, publicou uma carta enviada por leitora chamada Ida, moradora de Porto Alegre. Ela contou que fazia a mesma receita de forma diferente, chamando de bombom de leite condensado.
Provavelmente, nos primeiros anos, o nome brigadeiro foi transmitido oralmente. Em décadas seguintes, os livros de culinária tiveram papel importante. A própria Nestlé ajudou a propagar a receita na publicidade do Leite Moça. Na revista Manchete, publicada desde 1952, o primeiro anúncio da marca com referência ao brigadeiro é de 1967.
Eurico Gaspar Dutra venceu a eleição de 1945. Eduardo Gomes ficou em segundo. Ele era um dos sobreviventes da Revolta dos 18 do Forte em 1922, no Rio de Janeiro. Patrono da Força Aérea Brasileira, chegou à patente de marechal-do-ar. Morreu em 1981.
Por que gaúcho chama o brigadeiro de negrinho?
Nenhuma certeza. Uma das suposições é a rejeição dos gaúchos ao político Eduardo Gomes. Em 1950, ele foi derrotado por Getúlio Vargas na disputa à presidência da República. Se considerarmos que a difusão do nome do docinho pelo Brasil não foi tão rápida, seria menos provável a hipótese da politização. Mas também não pode ser ser descartada.
O professor Cláudio Moreno tem um palpite, já compartilhado em coluna em Zero Hora: "os gaúchos, sempre minimalistas e polarizadores, preferiram distinguir os dois tipos básicos de doce de leite condensado apenas pela cor – negrinhos e branquinhos – e não se sentiram movidos, como nos outros Estados, a adotar a denominação de brigadeiro para os primeiros, nem a de beijinho para os outros."
Veja a receita do brigadeiro publicada pela Revista Cruzeiro em 1949, com o texto original:
Ingredientes: 2 latas de leite condensado, 2 colheres (sopa) bem cheias de chocolate em pó, chocolate granulado ou confeitos coloridos
Maneira de fazer: misture o leite condensado com o chocolate e leve ao fogo até enxergar o fundo da panela. Retire do fogo, deixe esfriar, faça bolinhas e passe o chocolate granulado ou os confeitos coloridos.
Nota: excelente para festinhas de crianças.
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