O Leite Moça é daquelas marcas que já foram sinônimo do produto, presente na infância de várias gerações. Lembro de ficar esperando minha mãe entregar a colher usada para tirar o leite condensado da embalagem antes da preparação de alguma receita na cozinha. Uma briga certa para saber quem poderia lamber. As latinhas vazias iam para o lixo, mas os rótulos com receitas de sobremesas eram guardados. Uma pilha de papéis ficava na gaveta.
O leite condensado, consumido na Europa e nos Estados Unidos, já era anunciado em jornais do Rio de Janeiro na década de 1860. Apresentado como um produto resultante da retirada de água do leite de vaca e adição de açúcar refinado, chegava nas remessas das companhias de importação.
Na década de 1890, a pioneira Anglo-Swiss Condensed Milk Company, que viria a se fundir com a rival suíça Nestlé anos depois, colocou no mercado brasileiro o Milkmaid, nome em inglês da marca de leite condensado com uma moça, camponesa vendedora de leite, no rótulo. A jovem da embalagem acabaria dando novo nome à marca no Brasil.
O produto era oferecido como substituto do leite fresco, que não podia ser conservado como hoje. De acordo com as propagandas, uma lata de leite condensado misturado com água renderia até quatro litros de leite. A marca importada logo enfrentou a concorrência. Em 1911, a Nestlé & Anglo-Swiss Condensed Milk Company publicou em jornal do Rio de Janeiro o que o consumidor precisava observar para não ser enganado: todo rótulo deveria ter a moça com um balde na mão e outro na cabeça. A indústria reforçava que o "leite Moça" era fabricado "há 50 anos nas grandes leiterias da Suíça".
A primeira fábrica da Nestlé no Brasil foi inaugurada em 1921 em Araras, no interior de São Paulo. Além do novo leite condensado Ararense, produziu no país a famosa marca Moça. No ano seguinte, montou um pavilhão na Exposição Internacional do Centenário do Brasil, no Rio de Janeiro. O Chalet Moça foi uma atração e o leite condensado recebeu premiação, por muito tempo estampada nas embalagens.
Inicialmente, o Leite Moça era apresentado como um alimento infantil, além dos outros usos domésticos. Ele era divulgado junto com a farinha láctea, outro produto para crianças. Em 1929, a Revista da Semana publicou a foto da menina Albertina e a carta do pai, Joaquim Martins, morador de Pelotas, agradecendo à indústria pela qualidade da farinha láctea e pelo leite Moça, "único alimento desde o primeiro mês de vida". No texto da publicação carioca, ele dizia que a garotinha de sete meses estava "gorda, forte e bonita".
Um rótulo de 1945 destacava que o Leite Moça poderia substituir o leite fresco em todos os seus usos, especialmente indicado para alimentação de crianças. Uma tabela mostrava as porções indicadas da mistura de leite condensado e água para mamadeiras dos bebês a partir de uma semana de vida.
Desde o início do século 20, a Nestlé oferecia receitas em livros, além dos famosos rótulos que vieram mais tarde. A indústria passou a direcionar a propaganda para o uso culinário. Atualmente, as embalagens trazem a advertência de que o leite condensado não deve substituir o leite materno, nem ser usado na alimentação de menores de três anos.
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