O sonho de Santo Antônio da Patrulha está na memória afetiva de muitos gaúchos. Nas viagens para a praia pela Estrada Velha, era obrigatória uma parada para o lanche no município do Litoral Norte. O sonho açoriano conquistou a preferência das famílias, com uma crocância inigualável. Combinava muito bem com um café ou refrigerante.
O produto está diretamente ligado à imagem da cidade, junto com a cachaça e a rapadura. A receita foi trazida pelos imigrantes açorianos, mas ganhou fama nas mãos de Adelaide Peixoto Monteiro. No posto de gasolina aberto pelo marido, Modesto Antunes Monteiro, em 1940, ela surpreendia os viajantes com o doce. Com a construção da RS-17 (atual ERS-030), aumentou o movimento rumo às praias, com todos passando por Santo Antônio da Patrulha. O negócio da família cresceu, com criação do restaurante Boas-Vindas, tradicional paradouro para os ônibus. Mais tarde, abriram também um hotel.
As coisas mudaram com a inauguração da freeway, em 1973. A viagem entre a Região Metropolitana e o Litoral Norte ficou mais rápida e não teve mais a parada em Santo Antônio da Patrulha. O restaurante perdeu clientes, até fechar as portas na década de 1990. O historiador Fernando Rocha Lauck destaca que dona Adelaide foi importante também na formação de sonhadeiras, mulheres que até hoje fazem os sonhos na cidade. Ela faleceu em 1985, e o marido, dez anos depois.
Os irmãos Luciano, Marcelo e Andrea Cardoso Pereira decidiram levar adiante a tradição herdada dos açorianos. Nas últimas duas décadas, estão à frente da Casa do Sonho, no local do antigo restaurante da família Monteiro. Luciano conta que uma filha de dona Adelaide os acompanhou nos primeiros tempos, repassando a receita e os segredos.
A receita não é igual à da maioria dos sonhos que encontramos nas padarias de outras cidades, que são mais fofinhos. O quitute açoriano é feito com farinha, sal, água e ovo. Frito em panela. Nada de fermento e forno. O tradicional sonho açoriano precisa ser crocante por fora e aerado por dentro. No fim, recebe uma cobertura de açúcar e canela.
Na Assembleia Legislativa, tramita projeto de lei para reconhecer a relevância cultural do sonho açoriano de Santo Antônio da Patrulha.
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