Não foi à toa que Eduardo Leite (PSDB) subiu o tom ao justificar nesta quinta-feira (19) o cancelamento da venda de ações do Banrisul, em entrevista coletiva no Palácio Piratini. O governador do Estado demonstrou-se claramente incomodado com a associação feita por opositores de que a operação esconderia uma tentativa desesperada do Executivo de permitir condições para que Leite cumprisse uma promessa feita durante a campanha eleitoral: colocar os salários do funcionalismo em dia em seu primeiro ano à frente do Piratini.
— Ouvimos que o governo venderia as ações a qualquer preço apenas para cumprir uma promessa de campanha. Jamais faríamos uma venda a qualquer preço. Insisto (a venda de ações), não tem nada a ver com promessa. Atrasar salários não é normal, não deve ser entendido como normalidade — disparou Leite nesta manhã.
O governador fez referência às críticas recebidas e disse que precisou ouvir tudo em silêncio, por conta das regras impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para realização da operação. Nos últimos dias, deputados de diferentes partidos convocaram entrevistas para marcar posição contrária à venda de ações a um preço muito abaixo do que o previsto. Parlamentares do Novo e do Partido dos Trabalhadores, por exemplo, se expuseram como contrários à medida.
Ainda durante o comunicado, Leite transpareceu incômodo com o ambiente formado a partir dos comentários negativos sobre o procedimento. Para o governador, isso também teve influência no preço especulado por investidores.
— O debate público que se estabeleceu nas últimas semanas certamente comprometeu o ambiente. Foi aproveitado pelo mercado para especular e assim reduziu-se o valor das ações — completou.
O fato é que a promessa de pagar os servidores em dia no primeiro ano de governo tornou-se, realmente, complicada — para não dizer inviável —, como bem observou a colunista Rosane de Oliveira. E, para além desta polêmica, Leite terá também que lidar com a pressão pela privatização do banco a partir do recuo sobre a venda de ações.