Após idas e vindas, o governo do Estado desistiu da nova oferta de ações do Banrisul. Mudanças no plano de venda indicaram, ao longo da quarta-feira (18), dificuldades para alcançar as expectativas do Palácio Piratini. A informação do cancelamento foi divulgada nesta quinta-feira (19) em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Segundo a justificativa, o preço por ação não atendia ao interesse do acionista vendedor. O governo Eduardo Leite planejava obter cerca de R$ 2,2 bilhões com a venda, considerando o preço de R$ 23 por ação, que era o praticado quando a operação foi anunciada.
Na quarta-feira, informações que circulavam no mercado financeiro davam conta de que o banco havia conseguido garantir um preço minimo de R$18,50 por ação — indicando receita entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão, menor da esperada inicialmente. Com isso, o Piratini não conseguiria arrecadar o valor necessário para quitar compromissos passados e ganhar fôlego para colocar em dia a folha do funcionalismo.
Um fato relevante divulgado na madrugada de quarta já havia sinalizado que o cenário seria complicado. No documento, o governo comunicou a redução no número de ações ofertadas para 71,3 milhões. Além disso, o Piratini anunciou a alteração no cronograma de venda: a liquidação das ações foi adiada para segunda-feira (23). Inicialmente, o processo terminaria sexta-feira (20).
Para especialistas, a dificuldade em atingir o preço esperado era o principal motivo por trás das modificações.
— A leitura é de que a oferta não está atraindo tantos interessados. Isso também frustraria as expectativas de preços — comentou, mais cedo, Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos.
Analista da agência Austin Rating, Luis Miguel Santacreu lembrou que o mercado financeiro viveu, nos últimos dias, momentos de turbulência:
— O governo precisa de recursos, não dispõe de muito tempo. A questão é que o mercado viveu certa turbulência, com debate sobre o nível do juro no Exterior, guerra comercial entre EUA e China.
Durante a quarta-feira, o Piratini não se manifestou sobre o que motivou o adiamento. Esse comportamento foi adotado desde a divulgação da negociação. O Executivo afirmou que não se manifestaria em respeito a regras da CVM, responsável por regular a operação. Enquanto isso, adversários fizeram diversas críticas à iniciativa.
No governo José Ivo Sartori, também houve tentativa frustrada de negociação de papéis. Se a intenção não é nova, o formato do negócio escolhido por Leite e os recentes desdobramentos indicam mudanças em relação a ofertas anteriores. A razão disso — embora o Piratini não se manifeste — é viabilizar dinheiro o mais rápido possível para desafogar o caixa, quitar salários e criar condições para o envio de projetos indigestos à Assembleia.
Entre as propostas, estão mudanças nos planos de carreira dos servidores, cortes de benefícios funcionais e alterações previdenciárias. Nos bastidores, a avaliação é de que não há clima para aprovar tais medidas se os contracheques do Executivo seguirem parcelados. Além disso, Leite se comprometeu, nas eleições, a regularizar os pagamentos até o fim de 2019.
Em 9 de setembro, quando anunciou a intenção de vender ações, o governador optou por restringir a proposta a investidores profissionais, diferentemente do que fez Sartori. Isso significa que pessoas físicas que não atuem como gestores autorizados pela CVM ou que não tenham R$ 10 milhões em ativos estavam impedidas de participar. A opção reflete a urgência do governo por recursos.
— A oferta restrita acaba facilitando o processo, porque há menos exigências regulatórias. É uma maneira de chegar mais rápido ao recurso — explica o analista-chefe da Geral Asset, Carlos Müller.
Ainda assim, Leite manteve a operação e tentou ganhar tempo ao adiá-la, ao contrário do que fez Sartori, quando desistiu em 2017, por "condições desfavoráveis".
— Não lembro de outra ocasião em que uma oferta desse tipo tenha sido postergada — diz Müller.