O governo do Rio Grande do Sul desistiu de vender as ações do Banrisul. O comunicado acabou de ser enviado ao mercado por meio de um fato relevante. O texto deixa claro que o motivo foi o preço que se alcançou na negociação, que chegou a ser prorrogada em um dia:
"(...) o preço por ação apresentado não atendia ao interesse do Acionista Vendedor. Dessa forma, o Acionista Vendedor comunicou o Banrisul a respeito da decisão de cancelamento da Oferta”, diz trecho do comunicado do Banrisul.
Quando a oferta foi lançada, o preço da ação estava em torno de R$ 23, o que levou o mercado a calcular que o governo gaúcho poderia levantar R$ 2,2 bilhões com a negociação. Fontes da coluna informam que, até a noite de terça-feira (17), o banco tinha garantido um preço de apenas R$ 18,50 e tentou, ao longo dessa quarta, elevar para R$ 19.
Até mesmo investidores que tinham ofertado esse valor acabaram recuando. A negociação envolveu apenas os chamados investidores profissionais, que informam antes o preço que estão dispostos a pagar e os coordenadores da operação selecionam, então, as ofertas.
Para o mercado, a negociação foi "caótica" e um "fiasco". Quando o vendedor aponta o desespero pela venda, que é o caso do governo buscando o dinheiro para regularizar fluxo de caixa, é normal que seja ofertado um preço baixo pelo papel.
A situação traz de volta com mais força a discussão pela privatização do banco estatal, mesmo com a reiterada negativa do governador Eduardo Leite sobre a venda do controle. Esse debate, na verdade, nunca desapareceu porque sempre ressurge nas análises como sendo uma opção no horizonte quando a situação das finanças piorar ainda mais.
Fontes que participaram da operação, inclusive, dizem que a privatização do Banrisul é o assunto do momento nos bastidores. No entanto, não querem se identificar ainda. Já Wagner Salaverry, sócio da gestora de fundos Quantitas, diz que o governo entrou em um "brete"
— O governo ficou em uma posição ainda mais delicada, em um brete. Precisa do dinheiro da venda de ações do Banrisul para pagar o atraso da folha de pagamentos, mas quis fazer a operação de uma forma parcial e apressada, sem a privatização do banco, que lhe permitiria vender com prêmio de controle, recebendo alguns bilhões a mais — analisa Salaverry.
Para o especialista, uma nova venda agora fica ainda mais difícil com o preço que foi alcançado:
— Ao testar o preço da sua escolha no mercado, percebeu que venderia muito perto do valor contábil e recuou por achar o preço baixo. Investidor faz conta. Agora, fica mais difícil repetir a tentativa e continuará precisando do dinheiro. Não resolveu nada e ficou ainda mais pressionado — conclui ele.
Lembrando que o governo chegou a fazer uma tentativa de valorização ainda no final da semana. Certamente, já percebia que a dificuldade de conseguir um bom preço. No domingo à noite, o Banrisul divulgou um fato relevante ao mercado informando que o governo, que é o acionista controlador, pediu para que se convoque uma assembleia geral extraordinária (AGE) para acionistas deliberarem sobre um programa de Units da instituição financeira. Elas funcionam como um combo, que uniria ações ordinárias com preferenciais. Seria somente após a venda, mas tinha como objetivo aumentar o volume de negociações e valorizar os papéis do banco.
Enfim, mesmo cancelada, a operação já gerou um custo. Certamente, foi alto pelas instituições financeiras que foram contratadas para conduzir a negociação. O próprio Banrisul era o coordenador líder. Junto, estavam o BofA Merrill Lynch, Itaú BBA e JPMorgan.