A baixa procura e, por consequência, o preço bem menor do que o previsto fizeram com que o governo do Rio Grande do Sul adiasse a venda e também reduzisse o número de ações do Banrisul que entrarão na negociação. Pelo cronograma divulgado na semana passada, quando a oferta de papéis foi lançada, o fechamento de preço estava previsto para essa terça-feira (17). Ficou para esta quarta e a negociação na bolsa de valores de São Paulo, a B3, também foi empurrada em um dia, passando de quinta (19) para sexta-feira (20).
Quando a oferta foi lançada, o preço da ação estava em torno de R$ 23, o que levou o mercado a calcular que o governo gaúcho poderia levantar R$ 2,2 bilhões com a negociação. Só que fontes da coluna informam que, até a noite passada, o banco tinha garantido um preço de apenas R$ 18,50 e tentava elevar para R$ 18,75. A negociação envolve apenas os chamados investidores profissionais, que informam antes o preço que estão dispostos a pagar e os coordenadores da operação selecionam, então, as ofertas.
Além disso, o número de ações foi reduzido de 96.323.426 para 71.350.686. Deixaram aberta, no entanto, a possibilidade de voltar à quantidade anterior. As informações estão em fato relevante enviado ao mercado à noite passada.
— Provavelmente porque a quantidade de ações demandadas pelos investidores no preço que o governo entende adequado à venda é essa menor. Tentarão aumentar a demanda de investidores hoje — analisa uma fonte da coluna que monitora a operação, mas prefere não se identificar.
Todas as medidas, claro, buscam elevar o preço da ação. Além de aumentar o montante que o governo arrecadará, também deixa os demais acionistas menos contrariados. Já que a venda por preço tão abaixo do previsto gera o receio de que desvalorize todas as ações do Banrisul.
— A tentativa é para buscar um preço melhor, mas mostra a dificuldade pelo lado da demanda. Há ainda o receio de que haja baixa liquidez dos papéis, com investidores que compram e não negociam as ações — comenta outra fonte da coluna.
Caso o governo gaúcho venda a quantidade de ações proposta agora pelo preço de R$ 18,50, irá arrecadar pouco mais de R$ 1,3 bilhão. Lembrando que a insuficiência mensal nas contas é de R$ 1,27 bilhão, conforme o último informe financeiro do Tesouro do Estado disponível no site da Secretaria Estadual da Fazenda.
O número de ações foi reduzido até o limite, portanto, porque o governo quer tentar regularizar o fluxo de caixa, ainda que isso ocorra apenas de forma provisória (não há garantia de que será possível manter a regularidade). Por mais que não diga abertamente, o dinheiro será usado para quitar a folha de pagamento do funcionalismo, que está sendo parcelada. Leite tem dito que cumprirá a promessa de manter em dia o compromisso ainda no primeiro ano do mandato, e o dinheiro da venda de ações é considerado, pelo governo, o primeiro passo para isso.
Essa perspectiva, contudo, é alvo de ceticismo por parte de analistas, entre eles Débora Morsch e Rafael Morsch, gestores da Zenith Asset Management.
— As pessoas estão sendo enganadas. O que Leite quer é evitar que duas folhas se sobreponham. Não vai conseguir botar as contas em dia com esse dinheiro. A postergação na venda de ações é sinal de desespero. O Estado vai vender quase de graça o melhor ativo que tem, e isso preocupa — diz Débora.
No domingo à noite, o Banrisul divulgou um fato relevante ao mercado informando que o governo, que é o acionista controlador, pediu para que se convoque uma assembleia geral extraordinária (AGE) para acionistas deliberarem sobre um programa de Units da instituição financeira. Elas funcionam como um combo, que unirá ações ordinárias com preferenciais. Seria somente após a venda de quinta, mas tem como objetivo aumentar o volume de negociações e valorizar os papéis do banco.
O governo até pode desistir da operação, mas não é provável. Já houve um custo para lançar os papéis.