Ex-presidente do Banrisul, o administrador Mateus Bandeira, 50 anos, esteve no centro da uma discussão importante para o futuro do Estado nesta semana. É ele o autor da ação que resultou em decisão liminar da 4ª Vara da Fazenda Pública, em Porto Alegre, com a suspensão da venda das ações do Banrisul, anunciada pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), até que o Estado preste informações requisitadas sobre o negócio. Adversários na campanha eleitoral de 2018, Leite e Bandeira divergem sobre o tipo de modelo a ser adotado pelo governo quanto ao futuro da instituição.
Desde os debates, Mateus Bandeira se colocou favorável à privatização porque, segundo ele, "não é função do Estado ter um banco" e porque este seria o único "caminho seguro" para recuperação fiscal do Estado.
Mateus Bandeira também falou à coluna sobre a tentativa de associar a ele um interesse particular por trás da sua posição contrária à venda de ações do Banrisul. Isso porque ele mesmo admite ser dono de 133 mil ações do banco (declaradas, segundo ele, na prestação junto ao Tribunal Regional Eleitoral), que somam cerca de R$ 4 milhões.
Confira a conversa com a coluna a seguir:
Por que o senhor é contra a venda das ações do Banrisul, anunciada pelo governo Leite? Na sua avaliação, haveria prejuízos à população gaúcha?
Sou contra porque é um péssimo negócio para o Estado, para o patrimônio público e, portanto, para todos os gaúchos. O governo queria fazer esta venda exatamente como fez em 08 de abril: a toque de caixa, aceitando preço menor do que elas valem e pra pagar despesas de custeio, contrariando seu próprio discurso de campanha. Mas, além disso, descumprindo a legislação estadual. A venda de ações da forma como já fez o governador Eduardo Leite em abril e como pretendia fazer novamente, desta vez com 100 milhões de ações, é “criminosa”, porque seria realizada por um preço inferior ao seu valor econômico, trazendo prejuízos ao Estado de pelo menos R$ 3 bilhões. No segundo turno, ao criticar o (ex-governador José Ivo) Sartori por ter feito o mesmo, ele mesmo comparou esta negociação a “vender os móveis da casa para pagar o almoço”.
O senhor se mantém a favor da privatização, como anunciou durante a campanha?
Sou a favor da privatização do Banrisul, porque obviamente não é função do Estado ter um banco, e enxergo nela o único caminho seguro para recuperação fiscal do Estado. Acredito, também, que a revolução tecnológica em curso e a competição que se abre com as novas “fintechs” é o prenúncio de uma grande transformação no sistema financeiro. No longo prazo, o banco pode valer bem menos do que vale hoje, ou do potencial de valorização que teria com a privatização agora.
Onde o governo de Eduardo Leite está equivocado, na sua avaliação?
Ele demonstra que não tem um projeto para tirar o Rio Grande dessa crise e comete o mesmo erro que já foi cometido pelo (ex-governador) Sartori. Está preso ao discurso de campanha de não privatizar o banco, mas quebra sua palavra em relação a venda de ações, porque pensa que o custo político seria menor. Ao tentar resolver o problema do funcionalismo olhando apenas para o curto prazo, demonstra desprezo ao patrimônio público e deslealdade com a população.
E quanto ao argumento de que o senhor é diretamente interessado, por conta das ações que possui? O senhor possui ações, de fato? Qual o valor?
A fiscalização dos atos do Poder Público é um dever e um direito de todo cidadão. A ação popular é recurso jurídico previsto na Constituição Federal e visa justamente permitir que qualquer pessoa zele pelo dinheiro que é de todos. Ao entrar com a ação, estou dando transparência e promovendo o debate público de um ato que o governo buscou conduzir em sigilo: sigilo, aliás, quebrado pelo juiz em sua decisão. Eu sou acionista do Banrisul e isso se tornou público porque quando fui candidato apresentei minha declaração de bens à Justiça Eleitoral. Tenho hoje 133 mil ações do Banrisul. O curioso é que quando o governo me acusa de agir motivado por interesse próprio por se acionista, não percebe mas está reconhecendo que a venda de ações seria então prejudicial aos acionistas. O que significa que é prejudicial ao seu maior acionista, o Estado do RS.