A chuva foi (e continua sendo) descomunal. A água, que havia dado uma trégua nos últimos dias, voltou com tudo ao Estado. O solo já estava encharcado e os entulhos ainda não haviam sido totalmente recolhidos das ruas de Porto Alegre. Tudo isso é verdade e é evidente que contribui para agravar o problema. Mas nada — nada mesmo — justifica o susto desta quinta-feira (23).
Mais uma vez, moradores da Capital, de bairros como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro, foram surpreendidos pela inundação repentina das vias — e, mais uma vez, sem receber orientações claras das autoridades (leia-se prefeitura) na hora em que mais precisaram. No momento da crise, isso faz diferença.
Muitos dos atingidos já tinham retornado para casa, porque a informação era de que podiam voltar — tanto que três comportas do muro da Avenida Mauá foram retiradas para facilitar o escoamento da água (e agora serão recolocadas, dados os riscos de novo repique no Guaíba).
Essas pessoas, que ainda reviravam escombros e faziam a limpeza da lama, reviveram as cenas de terror de duas semanas atrás, sem saber, ao certo, se deveriam ou não evacuar seus bairros novamente, sem entender bem o que estava acontecendo e sem compreender a extensão dos riscos. Enquanto isso, a água jorrava dos bueiros.
O prefeito Sebastião Melo, a quem estimo, esperou até o meio da tarde para falar com a imprensa.
Em vídeo, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) declarou que a chuva havia se intensificado "além do que os modelos previam". Será mesmo? Meteorologistas alertaram para altos volumes com 24 horas de antecedência. Mesmo que a quantidade tenha extrapolado a previsão, se sabia das chances de mais um evento extremo.
O Dmae também pediu que os moradores das áreas afetadas se encarregassem, eles próprios, de monitorar a situação e, em caso de necessidade, buscar abrigo em local seguro. Estou aqui pensando, como habitante do Menino Deus, se devo ou não preparar uma mochila com algumas roupas para sair correndo. Olho para fora, e a rua não está alagada (ainda). O que fazer?
Com todo o respeito que o prefeito merece e ao qual o Dmae também faz jus, inclusive pelo trabalho incansável de seus servidores na tentativa de sanar as falhas grosseiras de manutenção do sistema, isso não basta. Faltou, sim, clareza.