Há um ano fracassava a primeira tentativa do governo gaúcho de repassar o zoológico de Sapucaia do Sul para a iniciativa privada. Naquele dia, nenhuma empresa se interessou pela concessão proposta. De lá para cá, estudos complementares foram feitos a fim de viabilizar o modelo econômico que pudesse dar uma taxa de retorno aos investidores.
Porém, em setembro, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente incorporou um ingrediente que inviabiliza a concessão da forma como foi apresentada. Há uma linha de transmissão de energia que passa dentro do parque. Ela está disposta no trecho onde seriam instaladas as atividades que gerariam o retorno financeiro ao investidor, como parque de diversões, parque temático e até safari. Essa linha de transmissão foi anunciada em 2015 e serve para conduzir a energia produzida pelos parques eólicos do estado.
Pouco tempo depois, em 2018, o estudo de viabilidade da concessão do zoológico foi concluído pela consultoria KPMG/Manesco/Planos. A rede de transmissão não foi citada neste documento e a sua existência só foi alertada nos últimos dias pela secretaria do Meio Ambiente.
O governador Eduardo Leite foi comunicado nesta semana sobre este empecilho. Agora, caberá ao governo decidir se irá lançar o edital mesmo assim, correndo o risco de novamente não conseguir investidores; se já começa a projetar uma nova modelagem; ou se abandona a ideia de repassar o zoológico para a iniciativa privada.
Conforme o estudo de concessão, o investimento privado deveria ser de R$ 59 milhões, por um período de concessão de 30 anos, sendo que 70% das obras precisariam estar prontas em até três anos.
O ingresso havia sido fixado a R$ 15 sem a opção de pagar a entrada por veículo – hoje, sai por R$ 50, com estacionamento. O bilhete atual custa R$ 10, mas está desatualizado, uma vez que a Lei Estadual 15.017, aprovada no passado, determina que a entrada em parques estaduais deve ser R$ 15.
Além de zelar pelo bem-estar dos animais, o vencedor da licitação deveria ser obrigado a oferecer novas atrações que envolvessem lazer ou educação ambiental, como trenzinho, fazendinha, safari, aquário e arvorismo. Haveria ainda a liberdade para começar outras atividades, como apresentação de pinguins e shows de aves e de répteis, o que ocorre em outros zoológicos do país – nestes casos, podendo ser cobradas à parte.
Conforme dados obtidos por GZH, via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Fundação Zoobotânica, ligada à Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e atual administradora do parque, na média entre 2017 e 2019, o zoo teve receitas de R$ 2,7 milhões e despesas de R$ 11,4 milhões – diferença de 422%, que gerou déficit de R$ 8,7 milhões. Dessa forma, o investidor que vencesse a licitação para explorar o parque teria de quadruplicar a arrecadação apenas para empatar com os custos e não sofrer prejuízos anuais.