"Não existem ventos favoráveis para o marinheiro que não sabe para onde vai." (Sêneca)
O calendário é uma criação da humanidade, e foi estabelecido para pôr alguma ordem e objetividade no nosso tempo de vida. Mais do que dar sequência às estações do ano, que se não fossem nominadas já seriam reconhecidas por características inconfundíveis, o calendário induz reações humanas muito subjetivas, que dependem criticamente da desproporção entre o pretendido e o alcançado.
Segundo o psicólogo Saulo Velasco, os comportamentos são muito variáveis nesta época de ano, desde os que festejam a oportunidade do reencontro com amigos aos que se recolhem numa introspecção voluntária para o balanço anual e projeção futura, até os entram em depressão porque se sentem irreparavelmente fracassados.
Devem ser incluídos no combo da dezembrite os que se escravizam pela comparação com seus pares e apelam para a dissimulação, numa tentativa de disfarçar a inevitável percepção de que fizemos menos do que poderíamos e muito aquém do que esperavam.
De qualquer modo, não se pode ignorar uma variável importante: a nossa resistência emocional, que pode considerar o mau resultado como um desafio circunstancial ou uma derrota definitiva.
Também devem ser incluídos neste combo da dezembrite os que se escravizam pela comparação com seus pares, esse erro grosseiro que Mark Twain já advertiu ser "a morte da alegria", e apelam para a dissimulação, numa tentativa imatura de disfarçar a inevitável percepção de que fizemos menos do que poderíamos e muito aquém do que esperavam que fizéssemos.
Não por acaso, existem tantas crises e distúrbios emocionais nesta época do ano, incluindo depressões graves, que justificam o rotineiro aumento na taxa de suicídio. Mas até o folgado, que se comporta como se a vida fosse um eterno caminhar descalço na praia deserta, se sente tocado pela sensação de etapa concluída. E quando a autoanálise o deixa desconfortável, o usual é dirigir aos outros as críticas que não teve coragem de atribuir a si mesmo.
Então você, que está convencido que nós somos só o que fazemos, que amadureceu reconhecendo os seus limites e aspira ter histórias para contar aos seus netos, trate de viver com intensidade e, para não se machucar, tome alguns cuidados:
1) Não repita os erros dos outros. Trate de ser original.
2) Evite a ingenuidade de supor que as pessoas possam estar muito mudadas.
3) Não conte as suas queixas a quem não possa lhe ajudar. Elas seriam ouvidas como fofocas.
4) Em nome da sua saúde, renuncie às pessoas e às coisas que não lhe dão prazer.
5) Não exagere na autoestima. Perto de você, sempre haverá alguém fazendo melhor as mesmas coisas que você jurava não ter concorrência.
6) Só se preocupe com as críticas dos bem-sucedidos, porque apenas essas têm chance de serem construtivas.
7) Não seja demasiado rigoroso com os incompetentes e irresponsáveis. Eles já estão punidos, todos os dias, por saberem o que são.
8) Você que já aprendeu que ser feliz é ótimo, descubra logo que melhor ainda é perceber que outros ficaram felizes por sua causa.
Então, faça o que lhe encanta pelo prazer de fazer. Não dependa de nenhum governo, e trate de ser feliz, apesar dele.