As festividades que marcam a virada de ano são marcadas por confraternizações, presente e expectativas pela mudança de ciclo. No entanto, não é incomum a melancolia de quem estabeleceu metas no período e não as cumpriu. Para alguns especialistas, a “dezembrite”, como vem sendo chamada a “síndrome de fim de ano”, pode desencadear sintomas relacionadas à depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental.
São termos informais e não se referem a uma patologia, de fato, mas as emoções percebidas não podem ser ignoradas, como explica o psiquiatra Daniel Luccas Arenas:
— Não é um transtorno mental e nem um distúrbio caracterizado nos manuais de diagnóstico. Mas é um termo que representa a sensação que muitas pessoas têm nessa época do ano.
Segundo o médico, explicações para este tipo de situação podem ser traduzidas como fatos isolados ou agrupadas em uma soma de cenários que convergem para o problema. A autocobrança é um fator citado por Arenas, não só pelas metas estabelecidas por si mesmo para os 12 meses que passaram, quanto pelas firmadas e realizadas pelos outros.
Aliado a isso, as festas no período tradicionalmente reúnem famílias, o que pode trazer situações inesperadas para alguns, segundo o psiquiatra.
— Se torna complicado para quem passa por conflitos com determinados entes ou pela própria pressão familiar que certas pessoas sentem.
O excesso de pessoas em uma mesma confraternização pode incomodar. Da mesma forma, a escassez de companhia é capaz de expor outros problemas que remetam a uma espécie de fracasso. Arenas lembra que a solidão também é um fator que impacta nas emoções:
— Há quem lembre de outros eventos festivos com a presença de familiares que faleceram ou estão distantes e não estarão desta vez.
A dependência em substâncias, em especial, o álcool, é citada pelo especialista como um potencializador para os sintomas de fim de ano.
— O aumento do consumo também está associado à busca de resolução de frustrações e situações que geram estresse. Se a pessoa já tem um problema de saúde mental, isso pode gerar mais ainda incidentes — destaca Arenas.
Apoio emocional
O psiquiatra lembra que o período abrangido pela “dezembrite” se caracteriza pela busca acentuada por serviços de saúde mental. Ele cita o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. Segundo o relatório da organização referente a 2022, foram 267.543 ligações em dezembro (8,3%) dos mais de 3,2 milhões de contatos pelo telefone no ano passado.
Em formato voluntário, o CVV atende gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188, 24 horas todos os dias. E há ainda os atendimentos por e-mail e chat, que podem ser acessados pelo site.
Dicas para aliviar os sintomas da “dezembrite”
Seja por sintomas de estresse, tristeza ou ansiedade, a síndrome de fim de ano pode ser prevenida ou aliviada, segundo Daniel Arenas. Confira as dicas sugeridas pelo psiquiatra:
Metas realistas
Exagerar nas metas é um convite para a frustração. O ideal é definir objetivos possíveis e saber que em alguns casos eles precisarão ser adaptados ao longo do processo:
— Muitas vezes, estabelecemos metas irreais, que não cabem na nossa rotina. Por exemplo: "vou fazer duas horas de exercícios físicos durante todos os dias". Mas, isso pode não se encaixar no cotidiano porque tem os estudos, o trabalho, o tempo com a família e não há essa possibilidade de incluir essas duas horas de atividade diariamente. Faça no tempo possível ou adapte a sua rotina para que os exercícios caibam nela.
Bons hábitos
Isso envolve fazer atividade física regular e ter uma alimentação saudável, desde que, tudo isso, caiba na rotina, destaca Arenas:
— Previne transtornos ansiosos e depressivos. Se temos bons hábitos de vida, é menos provável que isso nos atinja com muita força.
Busque ajude, se preciso
Segundo o psiquiatra, quando os sintomas estão muito intensos ou a duração está muito grande, quando começa impactar a rotina diária, atrapalhando o tempo de trabalho e lazer, o ideal é buscar ajuda:
— Muitas vezes, isso requer uma avaliação psiquiátrica. Se for observado um caso mais grave, em que ocorrem ideações suicidas, essa busca precisa ser urgente, para que o atendimento aconteça da maneira mais rápida possível.
Fortalecer rede de suporte
— Indicada, principalmente, nos casos de solidão. Reforçar os espaços em que podemos ter contato com outras pessoas, as que gostamos e as que nos dão afeto. Família, amigos e, algumas vezes, comunidades, grupos de pessoas inseridas em um mesmo contexto. Grupos religiosos, colegas de trabalho com gostos semelhantes, grupos de estudos, pessoas que praticam juntos o mesmo esporte. Poder confraternizar e não se sentir tão só — diz Arenas.
Sem pressão
É importante que a pessoa não coloque tanta pressão sobre si mesma e sobre os outros ao redor. Mesmo sem perceber, muitas vezes, cobramos demais quem convive conosco:
— Um exemplo clássico é de uma pessoa que não nos vê há algum tempo e, durante a confraternização de fim de ano, julga a nossa aparência, peso e performance em um cargo que ocupamos. Da mesma forma, comenta sobre que não fizemos a respeito de algo esperado que fizéssemos. Pequenos comentários podem ser danosos e podem contribuir para o aparecimento dos sintomas. Precisamos ter autocompaixão, mas também respeitar o outro — destaca o especialista.
Valorizar as conquistas
Conforme Daniel Arenas, é preciso dar importância ao que realizamos:
— O ser humano tende a realçar o que dá errado e passa batido no que deu certo. Fazer uma lista do que funcionou é mais interessante do que pensar nas metas que não foram cumpridas.