Se considerarmos que tendemos à sinceridade quando estamos ameaçados por uma coisa tão assustadora quanto à possibilidade de morrer, vamos admitir que a saúde plena nos dá a chance de escolher o que gostaríamos de ser naquele dia, enquanto a doença é uma implacável delatora do que somos o tempo todo.
Fragilizados emocionalmente, tornando-nos mais transparentes e portanto vulneráveis, o que permite que o médico experiente, tendo sido muitas vezes o interlocutor central desse momento dramático, tenha ao seu dispor a oportunidade ímpar de se transformar em um especialista em gente, desde que esteja disposto a ouvir e disponível para compartilhar sentimentos. Nesse universo intangível, com alguma sensibilidade, existe até a chance de aprendermos a classificar as pessoas e, a partir daí, considerando que elas reagirão obrigatoriamente de acordo com o caráter de cada um, cheguemos a um nível de sofisticação de prever a reação em cada circunstância.
Admito que não levei muita fé quando, pela primeira vez, ouvi meu avô dizer que quando nos decepcionamos com alguém é por culpa nossa, por tê-lo classificado mal e, a partir de premissas equivocadas, alimentado falsas expectativas.
Os famosos, quando maduros, admitem que nada é mais difícil do que o exercício da humildade no sucesso.
Exageros à parte, a vida em sociedade oferece múltiplas chances para testarmos a acuidade dos nossos julgamentos. Como, por exemplo, quando entrevistamos alguém, candidato a algum cargo ou função, e há com frequência a consciência de que a tal conquista depende de nossa aprovação.
Não conheço melhor situação para identificar a maturidade de algum candidato do que ter que falar de si mesmo. Claro que não se espera que alguém, candidato a uma vaga, tenha uma crise de sinceridade extrema e anuncie uma relação de defeitos que o deprime. Mas no extremo oposto parece incontrolável a tendência de autoexaltação das melhores virtudes. É evidente que esse candidato está convencido de que convencerá, mas um pouco de senso crítico aconselha a moderar a autopromoção, porque de alguma maneira ela incomoda o entrevistador.
Lembro sempre do veterano empresário que entrevistava um candidato a executivo e, depois de ouvi-lo em abnegado silêncio durante 15 minutos, lhe perguntou: "Ao que o senhor atribui a injustiça de, nesses 45 anos, ninguém ainda ter-lhe reconhecido essa sua tão notável de coleção de qualidades?".
Os famosos, quando maduros, admitem que nada é mais fácil do que o exercício da humildade no sucesso. Mas há claramente a noção equivocada de que devemos impressionar o entrevistador, dando a ele a noção aguda da maravilha que somos.
As atitudes que ilustram os modelos mais corriqueiros podem ser sintetizadas em: os impressionantes, os impressionáveis e os que supõem que podem impressionar.
Nos extremos da curva, estão os impressionantes, que sabem que nada vale mais que a autenticidade, e os impressionáveis, que assumem na atitude deslumbrada uma posição de inferioridade. Correndo por fora, os incautos que ainda não perceberam o quanto falar bem de si é contraproducente na medida em que transfere ao entrevistador a pecha de influenciável. Ou seja, um tolo.
E lembre-se que um pré-requisito para quem tenha que tomar decisões é não ser influenciável por aparências. Então contenha o seu exibicionismo, porque quando ele é parte da primeira impressão, até as virtudes reais ficam ofuscadas.