"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." (Nelson Mandela)
Que ocorram mudanças de comportamento entre gerações é previsível, pela diversidade de fatores novos a influenciá-las. Também é natural que elas ocorram na adolescência, quando a audácia e a necessidade de afirmação se somam ao destemor e a alguma irresponsabilidade, transformando a juventude num laboratório de experimentação comportamental.
O que tem chamado a atenção de pais, professores e terapeutas é o quanto essas transformações têm se manifestado mais precocemente, numa faixa etária marcada, até há poucos anos, pela inocência e submissão à autoridade dos pais. Com a exclusiva intenção de entender o que está acontecendo, se percebe mudanças radicais recentes nas relações entre pais, filhos, professores e as escolas.
O alto percentual de casais que só voltam para casa no fim da tarde, exaustos por mais um dia de trabalho estressante, introduziu a novidade da educação terceirizada na primeira infância.
O alto percentual de casais que só voltam para casa no fim da tarde, exaustos por mais um dia de trabalho estressante, introduziu a novidade da educação terceirizada na primeira infância, com desdobramentos inevitáveis: insegurança pela antecipação da autonomia, decisões imaturas comandadas por pura intuição, solidão decorrente de relações afetivas com a superficialidade do mundo virtual, perda da noção educativa de deveres antecedendo direitos e, por consequência, liberalidade e tolerância exagerada dos pais que se sentem culpados pela negligência involuntária.
Quaisquer que sejam as razões, alarmam os desajustes observados, como, por exemplo, a cifra de 37% de crianças e adolescentes com problemas emocionais e um crescimento estarrecedor de 200% no índice de suicídio entre crianças de 10 a 15 anos.
Admitindo o óbvio, de que pais com sentimento de culpa são péssimos educadores, o surgimento da geração mimimi se impôs como mera consequência.
Como este episódio da mãe paulista que viralizou nas redes por ter denunciado, como desrespeitoso, um jovem médico que acrescentou aos medicamentos usuais de uma amigdalite uma prescrição empática e bem-humorada de sorvete de chocolate (com a opção de sabor selecionada pelo garoto) e um videogame popularíssimo na infância. Naquela denúncia havia muito mais da necessidade de transferir para alguém a culpa de ser mãe do seu jeito do que a perdoável ignorância do quanto o sorvete é um ótimo analgésico à amigdalite.
Na busca involuntária por um contraponto, sempre útil para enriquecer uma crônica, encontrei uma história maravilhosa protagonizada por uma professora americana do Alabama, que recebeu os alunos para o início do curso com a sala de aula vazia e explicou aos meninos que eles deviam sentar-se no chão. Como era de se prever, os garotos informaram aos pais desse comportamento bizarro da professora e, confirmando que denuncismo não tem pátria, as mães trataram de comunicar à imprensa que, como sempre doida por um fato novo, acorreu à escola e documentou o absurdo de uma professora excêntrica.
No meio da tarde, com a escola em alvoroço, entraram na sala, para surpresa dos alunos, um batalhão de ex-combatentes fardados de várias guerras, cada um carregando uma carteira escolar que foram distribuídas nos respectivos lugares. Depois, eles foram se colocar, em posição de respeitosa continência, junto à parede do fundo da sala de aula.
E então a professora explicou: "Esses soldados lutaram em diferentes guerras, perderam amigos, ficaram longos meses longe de suas famílias, interromperam projetos e atrasaram estudos, para que vocês pudessem viver num país que lhes dá uma liberdade, que vocês não moveram um dedo para merecer. Agora sentem nessas classes e façam justiça ao esforço que eles fizeram".
Claro que as mães daqueles fedelhos mimados não levaram adiante as queixas pretendidas, porque, afinal, condescendência na infância só serve mesmo é para produzir adultos frouxos. E desse tipo, como todos sabemos, o mercado está saturado.