"O verdadeiro velho é o que desistiu de ser um outro!" (Mia Couto)
Excluídos os 32 milhões de brasileiros desiludidos que, mesmo estando habilitados, desistiram de votar, parece adequado um momento de introspecção para ponderarmos o quanto podemos ainda contribuir para construção de um país que represente minimamente os nossos sonhos fundamentais.
O país onde eu sonho viver deve combater ferrenhamente a desigualdade social, pela busca do desenvolvimento econômico que ofereça a todos iguais condições de realização pessoal por desempenho. E sempre renunciando à degradante doutrina que propõe igualdade pelo empobrecimento coletivo.
O país onde eu sonho viver deve ser inteligente para copiar o modelo de países que deram certo e fugir das utopias delirantes que empobreceram continentes inteiros. Para isso, todas as bolsas assistenciais, indispensáveis para a sobrevivência, já devem estar vinculadas à presença dos filhos na escola.
Técnicos bem-sucedidos têm muito maiores condições de felicidade do que doutores desempregados por saturação de mercado.
O país onde eu sonho viver deve priorizar a educação, entendida como alicerce do desenvolvimento sustentado, e oferecer cursos profissionalizantes em todas as áreas, entendendo que técnicos bem-sucedidos têm muito maiores condições de felicidade do que doutores desempregados por saturação de mercado.
O país onde eu sonho viver deve valorizar ao máximo a figura do professor, estimulando-o e remunerando-o dignamente, porque só assim ele se sentirá reconhecido, condição indispensável para se buscar a excelência em qualquer atividade.
O país onde eu sonho viver deve priorizar a cultura e oferecer a todos os seus filhos a formação elementar que lhes permitirá a fuga ao rótulo aviltante de massa de manobra.
O país onde eu sonho viver deve formar médicos da melhor qualidade, evitando a iniquidade de considerar que para as pessoas desassistidas qualquer arremedo de medicina serve.
No país onde eu sonho viver, a imprensa deve ser um baluarte da consciência popular, fugindo do sensacionalismo barato que alimenta os piores instintos humanos, esses que persistem enraizados mesmo depois que, teoricamente, nos tornamos mais civilizados.
No país onde que sonho viver, todas as opiniões devem ser valorizadas desde que respeitem os limites da verdade, da convivência harmoniosa e da civilidade.
No país onde eu sonho viver, os políticos precisam ter caráter e coragem de exercê-lo no limite da resistência que deve brotar da inegociável convicção de que, nesta nobre atividade, não há espaços vazios, e os que forem negligenciados pelos honestos serão ocupados pelos vigaristas.
No país onde eu sonho viver, a Justiça deve ser exercida por profissionais progressivamente mais qualificados, de modo que alcancem o topo da pirâmide por concurso que, privilegiando a meritocracia, eliminará a gratidão, esse sentimento maravilhoso mas que, na conjuntura equivocada, contamina a independência entre os poderes magnos de qualquer república que repudie diminuitivos.
Na história das nações, o Brasil é um país jovem demais para desistir de ser um outro. Mesmo que isso pareça uma utopia, não nos isenta da responsabilidade de persegui-la, para que os nossos descendentes não se envergonhem do nosso legado. Enquanto ainda há tempo, pensem no quanto será constrangedor deixá-los perceber que por, inércia ou covardia, tenhamos desistido de viver no país que sonhávamos.