Ao impor proibição a artistas de fazerem manifestações políticas no Lollapalooza, o TSE evoca o ambiente da ditatura e prova mais uma vez que o fantasma da censura ainda nos ronda. As manifestações políticas sempre fizeram parte da prática artística. Tentar impedir o protesto de artistas, além de atentar contra a liberdade de expressão, ainda pode surtir um efeito contrário. Foi o que aconteceu no terceiro e último dia do evento.
A convite da banda Fresno, o cantor Lulu Santos foi um dos que se manifestaram contra a decisão do TSE: "É o seguinte... Como diz Cármen Lúcia, 'cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu'". Durante o show, a Fresno ainda exibiu num telão a mensagem "Fora Bolsonaro". Outros artistas como o rapper Djonga também se manifestaram enquanto se apresentavam.
Nas redes sociais, diversas personalidades criticaram a ação do TSE. A tentativa de silenciar artistas é uma prática conhecida de governos autoritários. Com a aproximação das eleições presidenciais, a temperatura dos debates públicos e posicionamentos políticos deve aumentar.
No entanto, precisamos estar sempre atentos. Proibir artistas de demonstrar seu descontentamento com o governo, seja ele qual for, é uma afronta ao pensamento crítico e à diversidade de ideias. Um artista não desvincula sua prática criativa da prática política. Aliás, a arte é sempre política, mesmo quando não há um engajamento aparente. Toda arte de qualidade é, no fim das contas, um ato de contestação social.
Quando as atitudes de cerceamento tomam proporções como esta, precisamos sempre lembrar dos movimentos de resistência artística durante os anos nefastos após o golpe militar de 1964, pois infelizmente o Brasil ainda não superou as suas duas maiores feridas: a ditadura e a escravidão.
Enquanto houver o fantasma do racismo e da censura, não teremos uma democracia plena. É proibido proibir.