Eu tinha 12 anos quando conheci o mar. Na verdade, eu já o conhecia, mas não prestava atenção nele. Explico-me. Nasci no Rio de Janeiro e passei boa parte da minha infância por lá. Nesse período, a praia era algo cotidiano. Para mim fazia parte do cenário e não me chamava a atenção. Na época, eu morava em Copacabana. Certa vez, depois da aula, decidi ir por conta própria dar um mergulho.
No entanto, naquele dia, fui mais fundo que o normal. Dei braçadas fortes. E de repente havia me afastado demais da praia. Em seguida, uma sucessão de ondas começou a vir, e eu estava cansado e não conseguia tomar fôlego. Aquilo nunca havia me acontecido. Comecei a engolir água. Me debatia tentando chamar atenção. Mas nada. Ninguém me via. Num dado momento, eu desisti. Meu corpo todo adormeceu. Tranquei a respiração, olhei para o céu azul e tive a certeza de que era a última coisa que eu veria antes de sucumbir nas águas de Copacabana.
Mas não. Fui salvo por um surfista. Segurou minha mão e me colocou em sua prancha. Me levou em segurança até a praia. Sob olhares de banhistas, sentei-me na areia. Eu estava bem assustado, mas bem. Então, pela primeira vez eu olhei o mar. Ali, entre soluços, compreendi que o mar era um abismo feito de água. Entendi a sua grandiosidade. E a partir daquele momento, o mar passou a ser uma metáfora para entender o quanto a vida era grave.
Anos depois, mudei-me para Porto Alegre. A cidade que escolhi para morar. Uma cidade que não tem praia. Eu sabia que viver longe do mar tinha um custo para minha subjetividade. Porque eu gosto do mar. Preciso dele. Então, um dia, ainda na adolescência, caminhei pela Rua da Praia. Cheguei ao Gasômetro. Fim de tarde. Olhei para o Guaíba e vi a luz do sol refletida nele. Lembrei-me do mar de Copacabana. E pensei: o Guaíba é um abismo também preenchido de águas. Desde então, digam o que disserem, o Guaíba é o meu mar. O Guaíba é a minha metáfora de mar. Nesta semana, Porto Alegre está de aniversário. Esta crônica é o meu presente. Uma cidade sem mar, mas para mim é como se tivesse.